Entrevista com Rui Sousa
Com alguma surpresa tendo em conta o bom posicionamento do
Real SC na Série G, o clube de Massamá/Queluz prescindiu dos serviços do seu
técnico, Rui Sousa, uma opção que apanhou de surpresa o próprio treinador uma
vez que recordou o excelente trabalho que tem vindo a realizar nos últimos dois
anos numa entrevista exclusiva ao NOVA ACADEMIA DE TALENTOS:
A sua saída causa algum espanto. A que se deve este
desfecho?
Como calcula não são problemas desportivos, estamos em 3º
a 2 pontos do 2º lugar e falta de valorização de jogadores também não é. Basta
analisar os jogadores que saíram nestes dois anos, aliados à nossa forma de
jogar e resultados mas pronto, nova janela vai abrir.
É um técnico agora livre de compromissos. Responsabiliza a
Direcção do Real pela sua saída precoce? Pode dizer-se que está a ser de alguma
forma atacado pelo clube?
Acho que os resultados falam por si, nos dois últimos anos
e inclusive neste Campeonato de Portugal Prio, estar em 3º lugar a 2 pontos do
2º lugar e 5 pontos do 1º não me parece ser mau para quem analisar entrevistas
iniciais da Direcção que quer fazer campeonato tranquilo e valorizar jogadores,
isso foi tudo feito até à data, digam o que disserem.
Há que não ter memória curta. Há 2 anos fiz 3º lugar na
Pró-Nacional quando peguei na equipa em 11º lugar, conseguimos a vitória na
Taça da AFL e a vitória na Liga Chinesa, no ano transacto fomos vencedores da
Pro-Nacional destacados, vitória na Supertaça da AF Lisboa, extraordinária
presença na Taça de Portugal eliminando o Portimonense e batendo o pé ao Gil
Vicente e um 2ºlugar na Liga Chinesa em sub21.
Ainda na presente época conseguimos a vitória na Taça
Nike, uma prestação digna na Taça de Portugal perdendo com o Oriental de uma
forma inglória e 3ºlugar no campeonato. Resultados?! Não me parece mas manda
quem pode e desejo toda a continuidade de sucesso que teve comigo ao clube.
Valorização de jogadores acho que esteve bem patente estes
2 anos, também o bom trabalho de toda a gente envolvida incluindo a equipa
técnica que foi também muito competente: saiu há 2 anos José Correia dos
Juniores do real para os Juniores do Sporting e depois o Inter de Milão, Miguel
Cardoso há 2 anos para o Corunha B encontrando-se agora na equipa principal,
saída do Vasco para Loures e agora Braga B…
Há a saída de inúmeros jogadores há 1 ano para o CNS na
altura: Elton, Delman, Daniel, Gonçalo, Rodrigo, Nelson para o Atlético depois
o Casa Pia, etc, a saída mais visível de Fati e Sousa para o Moreirense da
Primeira Liga e ainda continuam lá e no final da época o Carreira e o Morgado
também com mesmo destino mas ambos emprestados, um ao Felgueiras outro ao Real,
respectivamente!
Ou seja, valorização parece-me evidente que existiu e não
existe a mesma sem estar aliada igualmente de sucesso desportivo e isso
aconteceu e atribuímos mérito a todos, focando os jogadores que foram maiores
obreiros de todo este sucesso, eu fui uma peça de tudo e toda a estrutura teve
mérito, obrigado!
Fica a tristeza de memória curta e de desvalorização e crítica
fácil à equipa técnica, embora agradeça a toda a estrutura diretiva a
oportunidade de ter trabalhado nesse clube fantástico! A mensagem que fica e
que importa, as pessoas passam, os clubes ficam e mesmo com ideias, simbioses
diferentes daquilo que deva ser o caminho correto todos merecemos ter sucesso e
sentirmo-nos bem no local onde trabalhamos! Felicidades e votos de continuidade
de crescimento ao Real.
Estamos precisamente a meio da temporada no CPP. Todos
esses resultados falam por si. Uma vez que não foi pelos resultados
desportivos, a que se deve esta saída no decorrer da época?
Como deixei agora na última declaração, deduzo que tenha a
ver com simbiose de ideias futuras para o clube.
Como tudo se processou? Quem lhe comunicou que a Direcção
não contava mais com os seus serviços?
Marcaram reunião com a direcção e a decisão coube a quem
manda, eu sou funcionário simplesmente.
Comunicaram-lhe a sua saída pessoalmente?
Sim, embora quem anda no futebol se aperceba que há algum
tempo o queriam.
Esta possibilidade chegou a ser falada no início da época?
Recusou algum outro convite?
Não foi falada no início da época e quanto a convites
houve algumas abordagens ou breves contactos com elementos de algumas direcções
inclusive um da 2ª Liga mas não se concretizaram e fiquei no Real igualmente orgulhoso
e satisfeito, adoro muitos daqueles miúdos.
No final da época passada, a sua intenção passava por
continuar? Ou ainda esperou por alguns outros contactos?
Sempre dei prioridade à continuidade no projeto no Real a
não ser que se efectivasse o profissionalismo na Liga e isso ficou sempre tudo
claro entre todos até porque no Real também existem jogadores que merecem e tem
qualidade imediata para estar na Liga.
Era seu objectivo treinar a 1ª equipa quando chegou ao
comando dos Juniores no Verão de 2013?
Na altura quando cheguei, um pouco antes aguardava um
contato de uma equipa sénior de Nacional que não o Real mas que tardava por
opção a mudar de imediato, não podia estar como queriam a esperar por algo que
podia não acontecer e quando aceitei os Juniores era pelo fato de estar no
ativo e ainda assim não deixavam de estar na I Nacional, nesse momento nunca
pensei nos seniores do Real.
A sua carreira como técnico leva quase 20 anos. Como se
deu o início ainda tão jovem no Porto Salvo?
Era jogador e na altura o treinador principal, Sr. Arlindo,
trabalhava sozinho e eu como era igualmente aluno da FMH na especificidade de
futebol quando dei por mim e a pedido a ajudar e colaborar nos exercícios e
depressa me puxou para outro lado, o de treinador.
Dois anos depois, passou para o Oeiras. Como lhe surgiu
essa oportunidade?
Fomos como equipa técnica do treinador que saiu, eu
continuei ligado ao clube e ao Sporting na altura.
Quando foi para o Oeiras já estava ligado ao Sporting?
Liguei-me nesse mesmo ano ao departamento de prospecção
com Aurélio Pereira.
Portanto, a estada em Oeiras, as três épocas como
observador e o regresso ao Porto Salvo foram todos trabalhos ao serviço do
Sporting?
Não, além de treinar nessas equipas colaborava depois no
SCP como observador técnico para eles a analisar equipas ao fim-de-semana
quando podia e inclusive um ano em que lecionei no Algarve era responsável por
essa zona.
Depois de segundas experiências em Porto Salvo e Oeiras
seguiu-se o Amora. Foi na altura a melhor possibilidade que teve?
O Amora estava na II Divisão Nacional Zona Sul com
jogadores profissionais e muita experiência, casos do Matias ex Gil Vicente,
João Flores ex- internacional português, João Oliveira Pinto ex-SCP etc, Pedro
Regueira da U. Leiria, Cilio Souza ex-Beira-Mar, Domingos ex-Estoril, Miguel
Gama ex-SCP, Rebocho e Mendão ex-Vit. Setúbal, 2 jogadores emprestados pelo
Benfica. Danilson e George Jardel, irmão do Mário Jardel, foram uns meses
puxados e enriquecedores até à saída em Fevereiro por vencimentos em atraso.
Ainda pensei em continuar até final da época com o meu colega Rui Dias mas como
acumulava também treinos à noite no Oeiras e ainda lecionava estava a ser duro e
cansativo e ainda por cima não estava a receber do Amora, abdiquei daí.
O bom trabalho em especial no Oeiras levou-o ao Sintrense,
primeiro como coordenador técnico e apenas depois como treinador. Por que razão
apenas passou a treinador à 2ª época?
Porque fui para o Sintrense na altura a convite de um
presidente e estruturar todo o futebol formação mas sempre ficou patente que se
surgisse oportunidade ali ou noutro local em seniores eu sairia! Fizemos coisas
giras em pouco tempo, um torneio em homenagem a Adriano Filipe, entre outros.
Acabou por sair para o União Tires, a última experiência
que teve antes do Real. Esses três anos foram a preparação de que precisava?
Aí deu-me estaleca a trabalhar praticamente só com jovens
valores, diferente de ter jogadores maduros e experientes e aprendi esse
contexto igualmente com resultados, foi gratificante.
Para concluir, o que espera agora do futuro? Tem algum
outro projecto em vista?
Espero descansar um pouco, de momento não mas espero a
breve, médio prazo voltar a fazer o que gosto com a minha equipa técnica
competente e que até à data por onde tenho passado tem demonstrado uma
qualidade tremenda, e quando surgir nova oportunidade e projeto quem sabe
procurar a oitava subida de divisão.
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