João Mário respira como um 'trequartista'
Depois de no Sporting ter alcançado o seu lugar jogando descaído sobre uma ala, João Mário assume-se como indiscutível no Inter de Milão no centro do terreno, como mais gosta e como mais se adequa às suas características.
Há jogadores que desde bem cedo já estão talhados para o sucesso. Na
Academia Sporting sempre existiu um que na verdade não enganava, não só
pela qualidade e potencial como pelo discurso ambicioso e cuidado no
final de cada desafio desde o escalão de Iniciados A.
Nessa
altura era mais conhecido por Jomi (como ainda hoje é tratado pelos
antigos companheiros), ou até por Capitão, pelo facto de ter capitaneado
todos os escalões etários pelos quais passou nas camadas jovens
verde-e-brancas, tendo feito parte de uma geração na qual quase todos os
seus elementos chegaram com sucesso ao futebol profissional.
Para
muitos, chegou a ser apenas o irmão mais novo de Wilson Eduardo - não
por muito tempo, diga-se: chegou a jogar como defesa central e até mais
adiantado, nas posições de médio interior e médio ofensivo, mas seria
como médio defensivo que se fixaria até ao final da idade de formação.
Com a camisola 6 nas costas, sendo que ao chegar à equipa principal lhe
estaria destinado o 17 e na Selecção Nacional o 23, este último com o
qual se sagrou campeão europeu e logo no papel de titular. Todas elas
valiosas, mas nenhum amor como o primeiro…
Em Itália, João Mário abandona as funções que desempenhava em Alvalade
No
momento da sua chegada ao Inter de Milão, João Mário pôde recuperar a
‘sua’ 6 e dar início a uma passagem que poderá ser fulcral para que
aprimore aquele que provavelmente é o único aspecto que pode ser tido
como pecha e que vem melhorando época após época, a falta de
agressividade a defender que até há alguns meses lhe custava até alguns
minutos na Selecção Nacional.
Tudo se conjuga para que tal
aconteça, as coisas não começaram bem para Frank de Boer (parece ainda
assim, estar a ganhar algum fôlego), mas a avaliar pelas primeiras
amostras o treinador holandês parece um profundo conhecedor das
características da sua nova ’pepita’, uma vez que recusou seguir o que
havia sido feito por Jorge Jesus no Sporting.
Mais: de Boer optou
até por não auscultar o que comentavam os próprios adeptos ‘nerazzurri’
no momento da chegada de João Mário a entrada, dizendo não compreender
tamanho investimento para a posição de extremo na qual o clube italiano
se encontra muito bem servido em termos qualitativos. Fácil: porque o
craque português nunca foi um extremo puro nem tão pouco alguma vez o
será na sua etapa no Giuseppe Meazza.
Já em Portugal, vários
reputados comentadores da nossa praça diziam estranhar o facto de João
Mário vir a concorrer com o croata Marcelo Brozovic por um lugar na
equipa do Inter; prestes a entrar no mês de Outubro, pode verificar-se
que enquanto João Mário assume o estatuto de indiscutível na Série A
(não se encontra inscrito na Liga Europa por limitações impostas pela
UEFA), o internacional croata alinha na Liga Europa ocupando o lugar
habitualmente ocupado por Ever Banega na Liga italiana.
Perfil multifunções do craque português continuará a representar mais-valia na Selecção
É
ainda cedo para avaliar se João Mário se encontra no clube certo, mas
será já seguro afirmar que se encontra no esquema táctico certo - uma
estratégia híbrida que oscila entre o 4x4x2 e o 4x3x3, o que bascula o
craque luso entre a função de transportador de jogo em parceria com o
médio defensivo Gary Medel a as funções de ’trequartista’, o ’10’ da
equipa, que sempre tão bem lhe assentaram. Parece assim estar a jogar na
posição certa, no país mais indicado - quantos playmakers de classe
mundial não passaram, e brilharam, no ’calcio’ transalpino?
Parece
mesmo ser no centro do terreno que João Mário vai fazer carreira, o que
poderá ser visto de duas maneiras por Fernando Santos: como um
problema, pois perderia o seu habitual médio-ala direito, ou como talvez
deva mesmo ser visto, como uma benção - a polivalência do internacional
português nunca se perderá, pelo que continua a poder representar uma
opção, assim como uma eventual passagem para o centro abrirá uma
oportunidade para um jovem em ascensão como Bernardo Silva.
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