quarta-feira, 30 de julho de 2014




Logo após a conclusão do encontro válido pela Eusébio Cup entre Benfica e Ajax, o treinador do campeão holandês que na visita ao Estádio da Luz logrou obter uma vitória por 1-0 e a consequente conquista do troféu perante uma águia ainda distante do fulgor demonstrado na época passada, 
Frank de Boer, acedeu a prestar declarações em exclusivo mundial a Nova Academia de Talentos.
Após ter primeiramente prestado declarações à televisão do clube, a Ajax TV e à restante imprensa holandesa e portuguesa, o antigo futebolista que evoluía como defesa central, posição na qual estará entre os grandes especialistas da História da modalidade, comentou o encontro frente aos encarnados e estimou a importância do encontro para os seus jovens jogadores.

Rafael Reis: Como valoriza esta prestação da sua equipa neste jogo? Considera que esta foi a oportunidade ideal para os jovens poderem evoluir e demonstrar as suas potencialidades? Era esta a ideia principal?

É uma situação muito positiva para acrescentar ao nosso treino. Sim, penso que sim, este é um excelente estádio para se jogar e o meu objectivo passar por fazê-los competir nos melhores palcos. Foi uma experiência muito boa.

Rafael Reis: Um colega da Holanda que estava junto de mim falou-me na importância para a equipa de encontrar um substituto para o Viktor Fischer, que se encontra lesionado. É assim que acontece, Fischer ficará muito tempo afastado da equipa?

Sim, é verdade, a lesão é séria e complicada e é uma pena, temos de substituí-lo para iniciar o nosso Campeonato, isso será muito importante para nós.

Rafael Reis: O jovem jogador que hoje marcou o golo da vitória, Ricardo Kishna, poderá ser o substituto de que fala?

Sim sim, possui vários atributos semelhantes aos de Fischer, e ele está muito bem neste momento. Vamos ver, espero que continue a acompanhar o Ajax e desejo o melhor para si.

segunda-feira, 14 de julho de 2014




Entrevista com Guilherme Farinha - parte 1


Uma coisa parece certa e garantida neste Mundial 2014: não resistem quaisquer dúvidas em relação ao estatuto de surpresa-mor da prova para a Costa Rica, equipa superiormente orientada pelo colombiano Jorge Luis Pinto mas também uma nação marcada pelo bom trabalho desempenhado em duas passagens por um técnico português, Guilherme Farinha de seu nome.



O experiente treinador continua a residir e a trabalhar no país a partir do qual acedeu a prestar uma entrevista, respondendo a questões preparadas pelo jornalista brasileiro Ulisses Carvalho e a mim próprio num exclusivo nacional para VAVEL.



Rafael Reis: Espero que esteja a correr-lhe tudo como espera pela Costa Rica, será para continuar?



Na Costa Rica felizmente correu bem, fomos vice-campeões do Torneio de Copa, fizemos 5º lugar e estivemos a lutar até á ultima jornada para entrar nos 4 primeiros, para as semifinais. Em 66 anos de história da AD Carmelita fui considerado o melhor treinador do clube.

A equipa foi considerada a que melhor futebol praticou no campeonato nacional e estive entre os nomeados para o melhor Técnico do ano. E, por tudo isto, fui convidado a renovar contrato, o que fiz com muito agrado apesar de ter outras propostas.


UC: Como está o trabalho no Carmelita?



A AD Carmelita assinou contrato comigo na época passada, é um clube no pequeno bairro de Alajuela e que geralmente está na II Divisão e este ano conseguimos o título de vice-campeões no Torneio de Copa ao perdermos por penalties com o Saprissa, o campeão nacional. Ficámos em quinto lugar, temos o jogador com o golo mais bonito da época e eu estou entre os nomeados para melhor treinador do ano…

UC: Por que não foi jogador de futebol mas sim técnico? Como conseguiu seu primeiro emprego no futebol?


Nunca fui jogador de elite mas sempre joguei, desde os 8 até aos 25 anos, o meu primeiro treinador foi o Sr. Mário Lino no Sporting, como aspirante joguei no GDCR Os Mouros tendo como treinador o Sr. Luís Norton de Matos numa competição organizada pela AF Lisboa. 

Como sénior joguei no SBC e Woensel e também no Best-Voruit, todos da Holanda. Era jogador dos aspirantes de Os Mouros na época de 79/80 e a Direcção do clube convidou-me para treinar a categoria de Iniciados e aí comecei a minha carreira de treinador.



RR: Pode descrever os primeiros passos da sua longa carreira enquanto técnico?


A minha carreira não começou no Fanhões, começou nos Iniciados do Mouros durante duas épocas, ainda jovem e estudante, e na minha série só o Sporting me ganhava, cheguei inclusive a empatar com eles sendo eu jogador dos aspirantes do mesmo clube, na altura treinado por Luís Norton de Matos. Apareço depois como treinador dos Juniores do Fanhões graças ao convite de um grande amigo meu nessa altura director do clube, o Eng. João Duarte.


Depois passei pelo futebol da Holanda, onde treinei os seniores do KS Broekhoven, da cidade de Tilburg, nessa altura fui o primeiro treinador português a treinar na Holanda e quiçá dos primeiros na Europa.



Regressando da Holanda, treinei o Vitória Clube de Lisboa, da III Divisão e depois fui convidado a treinar o FC Oliveira do Hospital, também da III Divisão antes de aceitar a possibilidade de treinar a selecção da Guiné-Bissau e assumir o assessoriamento técnico do Centro Nacional de Formação de futebolistas e a organização de todos os campeonatos dos escalões etários de formação, das Escolas até aos Juniores.

UC: Através de quem surgiu a proposta da Seleção de Guiné Bissau e como era o país naquela época, as dificuldades e o futebol?



Havia vários candidatos para seguir para a Guiné-Bissau, mas para ser eu o eleito tive de ter a decisão favorável das seguintes entidades: Federação Portuguesa de Futebol, o Presidente, Dr. João Rodrigues, Direcção-Geral dos Desportos de Portugal, Prof. Dr. Mirandela da Costa, Associação Nacional dos Treinadores de Futebol, o presidente, Prof. Dr. João Mota, e do Cônsul da Guiné-Bissau, nessa altura o Major Valentim Loureiro. 

O projecto chamava-se ‘Projecto Juvenil da Guiné-Bissau, a colaboração e o apoio directo era dado pela DGD de Portugal e a coordenação do mesmo era feita pelo Prof. Carlos Queiroz na FPF.

O Projecto tinha vários objectivos, e o principal passava por organizar e dinamizar o futebol juvenil da Guiné-Bissau, durante esse período, que foram 4 anos e meio, também fui treinador de todas as selecções de formação da Guiné participando em Campeonatos do Mundo de sub-17 e sub-20, nos I Jogos Desportivos da Língua Portuguesa ganhando na final a Portugal em sub-16, e acabei por ser seleccionador nacional desse país ganhando vários torneios internacionais.

Por exemplo, venci a Taça Amílcar Cabral e apurei pela 1ª vez a Guiné-Bissau para uma  fase de grupos de uma CAN, Tunísia 94. Também participámos nos I Jogos da Francofonia em Paris com os sub-23, conquistando um honroso 5º lugar, saí de Portugal para iniciar este projecto em 1 de Novembro de 1990 e regressei em Dezembro de 1994. O país nessa época era tranquilo e vivia-se com extrema segurança, havia muito talento na Guiné-Bissau mas faltava melhorar as infraestruturas para a prática do futebol.



RR: Como descreveria essa etapa da sua carreira?



Pessoalmente é um país que muito respeito, mas na realidade era muito complicado pela falta de verbas, de condições, de infraestruturas, com um nível de pobreza muito elevado e desorganização quando lá cheguei e por todo o trabalho realizado durante quatro anos e meio classifico este meu trabalho neste país do continente africano como o meu melhor trabalho até hoje.

Testemunham esta minha classificação os Profs. Carlos Queiroz, Nelo Vingada, Rui Caçador e Arnaldo Cunhadepois de sair da Guiné após a brilhante participação nos Jogos da Francofonia em Paris em Sub-21, regressei a Portugal definitivamente devido a uma segunda malária que pôs em risco a minha vida. 


Quem me salvou da morte foi o Dr. Bernardo Vasconcelos, ficando para trás um trabalho árduo mas de muita paixão e dedicação e uma vitória nos I Jogos Desportivos de Língua Portuguesa ao vencer na final no Estádio Nacional Portugal por 1-0,” 



UC: O que ocasionou a sua saída de Guiné Bissau?



Após os Jogos da Francofonia em 1994, deixe-me dizer-lhe que fui para essa prova em Paris com uma recaída da febre da Malária, por indicação dos médicos guineenses, portugueses e italianos que trabalhavam na Guiné-Bissau foi-me aconselhado o regresso imediato a Portugal, portanto houve essa questão da saúde, e por outro lado o Governo de Portugal decidiu que estava concluído o meu trabalho na Guiné e que seriam os guineenses a dar continuidade ao projecto.



Graças a Deus, derivado ao trabalho desenvolvido por mim durante todo esse tempo recebi elogios do Governo português, nomeadamente do Ministro da Educação, Dr. Couto dos Santos, e ainda um Louvor e Mérito do Presidente da República da Guiné-Bissau.



RR: Que etapa se seguiu a essa experiência em África?


Há um pequeno interregno de alguns meses no qual dei aulas de Educação Física e após isso surge o convite para treinar o Praiense na II Divisão, o objectivo salvá-los da descida iminente, com a curiosidade de ter chegado à Praia da Vitória numa cadeira de rodas pois tinha sido operado com anestesia geral a uma rutura no tendão de Aquiles quando dava aulas e bem... consegui salvar o Praiense. 


Logo de seguida orientei o Sporting da Horta da III Divisão, também com o mesmo objectivo e mais uma vez foi cumprido, o aparecimento de Guilherme Farinha no continente sul-americano no Club Cerro Corá da I Divisão do Paraguai foi graças a um protocolo existente entre o Sporting Clube de Portugal e o Cerro Corá, pelas mãos do Eng. Vítor Batista, amigo de infância que conhecia e era amigo do vice-presidente do Sporting, Dr.Simões de Almeida.

Pôs-me em contacto com ele para uma reunião e numa semana viajei para Asssunción, o Cerro Corá encontrava-se na última posição do campeonato paraguaio, tive o privilégio de ter um mês de trabalho entre o Torneio Apertura e o Torneio Clausura e arrancámos para o Clausura. Para não descermos de divisão só podíamos perder um jogo e perdemos logo na primeira jornada com o Guarani.



Após essa derrota ganhámos 14 jogos seguidos e fui à final no Estádio Nacional Defensores del Chaco com o Olímpia e perdi por 3-0...e fomos vice-campeões. Deixo aos leitores a classificação do meu trabalho no Cerro Corá, um clube de bairro- Bairro de Campo Grande – com 200 sócios. 



UC: Como chegou até a América do Sul para treinar o Cerro Corá do Paraguai e fale de seu grande trabalho nesse clube?



Tinha acabado de salvar o Sp.Horta dos Açores de uma descida de divisão iminente, falo de 1996 e regressei a Lisboa. Era Director do Departamento de Futebol do Sporting o Sr. Luís Norton de Matos e o vice-presidente o Dr. Simões de Almeida, na época de 1997 o Sporting assinou um protocolo de colaboração e cooperação com o Cerro Corá, nessa altura militava na I Divisão do Paraguai e corria risco de descida.

O Cerro Corá pediu ao Sporting um treinador seu, as duas pessoas que referi convidaram-me para seguir para o Paraguai como treinador principal do Cerro Corá, ganhei o Torneio Clausura e consegui ser vice-campeão nacional e ganhei o prémio de Treinador Revelação outorgado pelo jornal ABC Color.  



RR: Depois do Paraguai optou pela primeira experiência na Costa Rica. Correu de acordo com o que esperava? 



As condições que encontrei na Liga Deportiva Alajuelense e no Sport Club Herediano foram muito diferentes das do Paraguai porque tanto um clube como outro são ou estão por História do país nos três melhores clubes da Costa Rica.

Posso afirmar inclusive que a LD Alajuelense em todos os aspectos é um clube de top em qualquer parte do Mundo, de tal forma que logrei o bicampeonato nacional, ganhando os dois campeonatos de Apertura e Clausura.

UC: Como foi parar no Alajuelense? Fale da sua passagem por lá.



Estava no meu terceiro ano de Cerro Corá e mataram o vice-presidente do Paraguai, Don Luis Argaña, e culparam o General Lino Oviedo que era presidente honorário do Cerro Corá, tornou-se quase impossível para o clube ter condições de segurança nos seus jogos fora. Para defender a minha integridade física o presidente do Cerro convidou-me a regressar ao Sporting mas não quis pois o trabalho estava a correr muito bem.

Entretanto o presidente da LD Alajuelense da Costa Rica, Rafael Solis Zeledon mostrou interesse junto do presidente do Cerro em adquirir um jogador do clube, Carlos Alberto Gonzalez, e também necessitava de um treinador, e o presidente do Cerro comunicou-lhe que o treinador do clube, Guilherme Farinha, seguia com o jogador para assinar contrato aproveitando a ocasião para tecer elogios vários elogios à minha pessoa enquanto pessoa e homem.

Com franqueza aceitei o convite do presidente do Cerro para seguir viagem para a Costa Rica e o Alajuelense, embora contrariado. Passados onze dias assinei contrato, no dia 13 de Maio de 1999, com o clube. Como deve compreender não vou contar toda a história pois seria muito longa mas conto o principal e talvez o mais impprtante – o Saprissa tinha ganho os quatro últimos Campeonatos quando pisei solo costa-riquenho, falei para a Imprensa que estava ali para ser campeão nacional!

A equipa já estava formada de jogadores e a equipa técnica era constituída por mim como treinador e preparador físico e mais dois elementos. Como aparte, hoje a mesma equipa é constituída por sete elementos. Ganhei o Torneio Abertura e o Clausura 99/00 e fui vice-campeão CONCACAF Las Vegas e campeão da UNCAF, no mesmo ano ganhei o prémio de melhor treinador estrangeiro da Costa Rica. 

Na época seguinte voltei a ganhar os Torneios Abertura e Clausura, fui bicampeão nacional, campeão da UNCAF, segundo na Copa Merconorte, o clube chegou ao 23º lugar no ranking mundial de clubes, ganhei o prémio de treinador do ano. 

RR: Considera ter conquistado o respeito dos adeptos da Costa Rica?


Sem dúvida, ganhei dos Torneios da UNCAF, sendo vice-campeão da CONCACAF em Las Vegas, conseguindo o segundo lugar na MercoNorte, levando a Liga a um elevado posto do ranking mundial da FIFA e tendo o orgulho da UNAFUT me ter outorgado por duas vezes com o prémio de melhor treinador do ano e a ANTF em Portugal me ter entregue o Prémio Fernando Vaz e o Jornal O JOGO me ter considerado o melhor técnico português no estrangeiro. Este último prémio foi atribuído por uma votação de todos os jogadores portugueses que actuavam no estrangeiro.

Texto: Rafael Batista Reis
Nova Academia de Talentos
rafaelreis.rbr@gmail.com