sábado, 24 de setembro de 2016





João Mário respira como um 'trequartista'

Depois de no Sporting ter alcançado o seu lugar jogando descaído sobre uma ala, João Mário assume-se como indiscutível no Inter de Milão no centro do terreno, como mais gosta e como mais se adequa às suas características.
Há jogadores que desde bem cedo já estão talhados para o sucesso. Na Academia Sporting sempre existiu um que na verdade não enganava, não só pela qualidade e potencial como pelo discurso ambicioso e cuidado no final de cada desafio desde o escalão de Iniciados A.
Nessa altura era mais conhecido por Jomi (como ainda hoje é tratado pelos antigos companheiros), ou até por Capitão, pelo facto de ter capitaneado todos os escalões etários pelos quais passou nas camadas jovens verde-e-brancas, tendo feito parte de uma geração na qual quase todos os seus elementos chegaram com sucesso ao futebol profissional.
Para muitos, chegou a ser apenas o irmão mais novo de Wilson Eduardo - não por muito tempo, diga-se: chegou a jogar como defesa central e até mais adiantado, nas posições de médio interior e médio ofensivo, mas seria como médio defensivo que se fixaria até ao final da idade de formação. Com a camisola 6 nas costas, sendo que ao chegar à equipa principal lhe estaria destinado o 17 e na Selecção Nacional o 23, este último com o qual se sagrou campeão europeu e logo no papel de titular. Todas elas valiosas, mas nenhum amor como o primeiro…
Em Itália, João Mário abandona as funções que desempenhava em Alvalade
No momento da sua chegada ao Inter de Milão, João Mário pôde recuperar a ‘sua’ 6 e dar início a uma passagem que poderá ser fulcral para que aprimore aquele que provavelmente é o único aspecto que pode ser tido como pecha e que vem melhorando época após época, a falta de agressividade a defender que até há alguns meses lhe custava até alguns minutos na Selecção Nacional.
Tudo se conjuga para que tal aconteça, as coisas não começaram bem para Frank de Boer (parece ainda assim, estar a ganhar algum fôlego), mas a avaliar pelas primeiras amostras o treinador holandês parece um profundo conhecedor das características da sua nova ’pepita’, uma vez que recusou seguir o que havia sido feito por Jorge Jesus no Sporting.
Mais: de Boer optou até por não auscultar o que comentavam os próprios adeptos ‘nerazzurri’ no momento da chegada de João Mário a entrada, dizendo não compreender tamanho investimento para a posição de extremo na qual o clube italiano se encontra muito bem servido em termos qualitativos. Fácil: porque o craque português nunca foi um extremo puro nem tão pouco alguma vez o será na sua etapa no Giuseppe Meazza.
Já em Portugal, vários reputados comentadores da nossa praça diziam estranhar o facto de João Mário vir a concorrer com o croata Marcelo Brozovic por um lugar na equipa do Inter; prestes a entrar no mês de Outubro, pode verificar-se que enquanto João Mário assume o estatuto de indiscutível na Série A (não se encontra inscrito na Liga Europa por limitações impostas pela UEFA), o internacional croata alinha na Liga Europa ocupando o lugar habitualmente ocupado por Ever Banega na Liga italiana.
Perfil multifunções do craque português continuará a representar mais-valia na Selecção
É ainda cedo para avaliar se João Mário se encontra no clube certo, mas será já seguro afirmar que se encontra no esquema táctico certo - uma estratégia híbrida que oscila entre o 4x4x2 e o 4x3x3, o que bascula o craque luso entre a função de transportador de jogo em parceria com o médio defensivo Gary Medel a as funções de ’trequartista’, o ’10’ da equipa, que sempre tão bem lhe assentaram. Parece assim estar a jogar na posição certa, no país mais indicado - quantos playmakers de classe mundial não passaram, e brilharam, no ’calcio’ transalpino?
Parece mesmo ser no centro do terreno que João Mário vai fazer carreira, o que poderá ser visto de duas maneiras por Fernando Santos: como um problema, pois perderia o seu habitual médio-ala direito, ou como talvez deva mesmo ser visto, como uma benção - a polivalência do internacional português nunca se perderá, pelo que continua a poder representar uma opção, assim como uma eventual passagem para o centro abrirá uma oportunidade para um jovem em ascensão como Bernardo Silva.

Sem esquecer que a juntar às inúmeras opções para o centro do terreno ainda contar com uma estrela do calibre de João Mário será algo ao nível de um campeão europeu como o é Portugal. E se tiver sucesso em Itália, como poderá mesmo conseguir, cedo ou tarde (ainda este fim-de-semana, com João Mário em bom plano, o histórico de Milão derrotou a campeoníssima Juventus, com direito a ’virada), o sucesso do ex-Sporting será o sucesso de todos os portugueses.    

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