Desde o seu início, o NOVA ACADEMIA DE TALENTOS tem
entrevistado vários grandes jogadores, jovens promessas, treinadores de
nomeada. No entanto, nunca teve a oportunidade de chegar à fala com um campeão
do Mundo e logo um atleta com uma história muito especial como é o caso de
Elinton Andrade, que ainda nem há uma semana conquistou o Mundial de Futebol de
Praia por Portugal alguns anos depois de ter conquistado a Ligue 1 na variante
de onze.
Qual é a sensação de ser campeão do Mundo?
Acreditava num passado recente que uma conquista deste tipo pudesse ser
possível?
Foi um orgulho enorme representar esta nação. Na
verdade, a sensação é a melhor possível. Às vezes ainda tenho dúvidas, parece
que a ficha ainda não caiu. Acho que se ainda estivesse em Portugal iria
vivenciar ainda mais esta emoção, o facto de ter voltado para o Brasil já me
fez refrear um pouco.
Já estou a treinar novamente, estou a tratar de
situações em que tive dois meses para resolver mas com certeza que eu, a minha
esposa e o meu filho ficamos a pensar nisso a cada instante. É fácil falar
sentado em casa que imaginava isto, mas posso dizer que as pessoas perto de mim
e em casa são a prova de que treino muito em todos os desportos em que Deus me
disposição de fazer e sempre almejei chegar ao lugar mais alto.
Saí do Brasil para jogar umas Olimpíadas
Europeias e nessa altura prometi ao meu filho e à minha esposa que traria uma
medalha olímpica e felizmente tivemos êxito lá, no Mundial foi a mesma coisa,
disse à minha mulher que ela iria a Espinho para ver o Mundial, para que eu
marcasse um golo para ela e para que ela nos visse sermos campeões do Mundo e
deu tudo certo, comecei a acreditar nisso.
Tendo em conta que cumpriu toda a carreira no
Futebol de 11, como lhe surgiu a hipótese de passar a representar Portugal
nesta modalidade?
Eu já tinha representado Portugal anteriormente
e na praia também, fiu até eleito o melhor jogador de um Mundial, isto na
variante de futvólei, e o Alan era até o nosso treinador, continuei a minha
carreira normalmente no futebol de 11 até que aqui apareceu a possibilidade de
jogar pelo Flamengo.
Isto porque optei por não aceitar algumas
situações no futebol de 11 e precisava de continuar a treinar. Então, nessa
altura apareceu o Flamengo que me permitiu treinar e continuar a competir.
Desde logo fui eleito o melhor guarda-redes do Campeonato, e desde então não
parei de jogar.
Sendo o Elinton um profissional de futebol de 11
com mais de 20 anos de carreira, como surgiu a possibilidade de jogar na praia?
Tocou num ponto interessante, são ao todo 21
anos de carreira e principalmente depois de ter jogado no Olympique de
Marseille onde aprendi muito, conquistei muitas coisas, comecei a ter a chance
de optar para onde podia ir, depois do Olympique fui para o Chipre e depois
disso resolvi voltar para o Brasil para ficar perto do meu filho, vim para um
clube pequeno que joga o Campeonato Carioca e enxerguei coisas que não merecia,
nem passar por elas.
Então, tomei a decisão de não aceitar qualquer
tipo de clube para jogar, principalmente pelas pessoas que os dirigiam. Em cima
disso, precisava de treinar, de competir e de fazer aquilo que mais amo, e
chegou essa possibilidade do Flamengo, mas infelizmente no Brasil, não sei se
também será assim em Portugal, existe o preconceito de que um jogador de
futebol de 11 que passa a jogar futebol de praia está a encerrar a carreira.
Não é esse o caso, pois estou muito longe de
encerrar a carreira, penso fazer muitas coisas ainda, e então optei por esse
desafio que nem sequer o é porque jogo na praia desde os 12 anos, conheço bem a
areia pelo futvólei, até voleibol de praia já joguei, e o futebol de praia era
o melhor para poder competir.
Só agora em Setembro completarei um ano de
competições em futebol de praia e que nem sequer são tantas assim porque o
Brasil é muito desorganizado nesse aspecto e infelizmente os jogadores não
podem viver do futebol de praia. Isso é uma pena e é por isso que aceitei ir
para a Índia, vou reforçar o FC Goa pois preciso de sustentar a minha família e
em cima disso, dessa altura em que joguei pelo Flamengo.
Comecei a acompanhar as competições nas quais a
Selecção Portuguesa jogaria e o Alan começou a falar-me muito do caso, das
Olimpíadas, do Mundial… e isso para qualquer atleta é um sonho e passei a
alimentar o sonho de ser medalhado olímpico e de jogar um Mundial e isso mexeu
muito comigo e já estava escrito, acho que o Pai do Céu assim o quis e foi por
isso que não apareceu nada de interessante no futebol de 11.
Quando fui ver, já estava dentro, foi o meu
primeiro estágio na Selecção, já marquei golos e assim fui deixando o meu
cartão-de-visita na equipa, essa marca registada de poder chutar à baliza e
fazer golos.
Quando voltei a olhar, estava na convocatória
para as Olimpíadas, para o Mundial e na Liga Europeia em Moscovo eu também já
estava, e foi sensacional, estou muito feliz com isso e fui campeão do Mundo
com uma família maravilhosa que conquistei. Estou ainda mais feliz por ter
conquistado tudo aquilo que conquistei por ser pela Selecção portuguesa.
Foi indiscutivelmente um dos melhores na posição
no Mundial. Acha que poderia ter vencido o prémio de melhor guarda-redes e não
o seu homólogo do Tahiti?
Vou ser sincero sobre essa questão do melhor
guarda-redes porque para a minha esposa, o meu filho, a minha mãe e os meus
amigos, a minha consciência, podes ter a certeza de que me vão achar o melhor
do Mundo, sei o que treino, o que vou fazendo no futebol de praia, sei do
Mundial que fiz, os meus 21 anos de carreira, acho que pode ter sido uma
compensação, uma divisão de prémios já que Portugal foi campeão.
Existiram outros jogadores de Portugal que não
conquistaram prémios individuais mas levaram o segundo e o terceiro prémio, os
de melhor marcador, mas não tem problema, o Tahiti só joga esta competição e
não terão outras. Se a FIFA decidiu por um voto que seria o guarda-redes do
Tahiti a ganhar ele acabou por ganhar, já há dois anos assim foi com a Rússia
que foi a equipa que ganhou, a Espanha foi segunda e quem ganhou foi o
guarda-redes espanhol, o Dona.
Mas é como te disse no início, o que vale é a
consciência e as pessoas próximas de mim e tenho consciência do guarda-redes
que sou e da importância que tive para Portugal, o prémio mais importante era o
Mundial e a taça de campeão, a medalha, e é isso que vou levar para o resto da
minha vida.
Ainda não conta um ano na modalidade embora
tenha conseguido sucesso imediato. Equaciona seguir carreira no futebol de
praia? Ou o futebol de 11 continua a ser a 1ª opção e a praia como complemento?
Na verdade, se conseguir com esta ida para a
Índia, que durará entre Setembro e Dezembro, e no restante tempo jogar futebol
de praia era sensacional porque é um desporto pelo qual sou apaixonado também
não só por essas conquistas como também pelo facto de estar a representar a
selecção portuguesa, vai ser sempre um prazer, e então se der a partir desse
período para jogar futebol de praia, está óptimo.
O problema em relação a isso é se acertar, e
seria um prazer também, com outro clube, por exemplo se tiver a oportunidade de
jogar na Liga portuguesa e fizer um contrato de um ou dois anos isso complica
um pouco para poder jogar outra modalidade, isso não existe. Tudo isto
aconteceu porque estava sem clube, optei por isto e só irei para a Índia em
Setembro, então tudo ficou mais fácil, estando em algum clube de futebol de 11
dificilmente seria libertado para jogar.
A minha carreira ainda vai ser longa, tenho 36
anos e vou jogar pelo menos até aos 45, tenho muito tempo para poder
representar clubes no futebol de onze e jogar futebol de praia na selecção
portuguesa. Já estou a pensar no próximo Mundial que será daqui a dois anos, as
próximas Olimpíadas Europeias daqui a quatro anos, se não me engano, na
Turquia. Se puder, o Andrade estará lá.
O seu futuro próximo passará então por começar a
época numa equipa de Futebol de 11?
Esse é o meu objectivo, primeiro em toda a
competição que estiver quero blindar e focar-me naquilo que almejo como o fiz
na Liga Europeia, nas Olimpíadas, no Mundial. No dia 15 estarei de volta a
Portugal para jogar a final da Liga Europeia na Estónia e pretendo finaliza-la
bem mas depois quando estiver na Índia vou ter de esquecer um pouco a praia e
focar-me exactamente lá e nesse título, no ano passado o Zico perdeu na
meia-final e eu ainda não estava lá.
Este ano pretendo ter essa sorte e ser campeão. Como já disse, o futebol de
praia não nos dá segurança e por isso é este o meu objectivo até Janeiro de
2016 e depois passar a jogar em Portugal, aproveito até esta oportunidade
porque muitas pessoas em Portugal vão ler esta entrevista ou saber dela para
dizer que desejo muito jogar aí e isso não tem que ver por me ter sagrado
campeão do Mundo pelo País, é um desejo antigo.
Quando estava no Olympique de Marseille existiram algumas situações mas era
difícil eu deixar o Olympique para aceitar algumas dessas ofertas, chegou a
falar-se do Vitória de Setúbal, com quem tive uma conversa interessante mas não
foi possível. No entanto, é meu desejo ir para aí jogar até pela família que
tenho em Vieira do Minho e poder estar perto deles.
Infelizmente, o futebol de praia não nos dá segurança, um salário mensal,
podermos trabalhar nesse desporto, é uma pena muito grande mas pode ser que a
partir deste Mundial… no Brasil é para esquecer, falo do Brasil pois sempre
vivi aqui mas realmente há sempre ‘bagunça’.
Isso reflectiu-se mesmo neste Mundial ao ter sido eliminado nos
quartos-de-final. Para dizer a verdade, não sei como é em Portugal para poder
falar sobre a organização no sentido de um dia um jogador poder ser assalariado
e poder viver disso para poder dizer se seria ou não possível. Enquanto não
acontece podermos viver do futebol de praia eu terei de continuar a minha
carreira, a Índia será um grande passo para poder fazer um desses contactos.
O Simão que jogou no Benfica vai também para lá, não para a minha equipa mas
para aquela que é treinada pelo Materazzi. Quem sabe o que vai acontecer?
Costumo pensar e traçar algumas metas e a maioria costuma dar certo e desejo
muito jogar na Liga Portuguesa. Em Janeiro estarei junto de todos vocês.
Irá jogar para a Índia, para o FC Goa treinado por Zico. Guarda algumas
expectativas sobre esse futebol? Ser treinado por Zico foi um atractivo para
aceitar?
Já tenho algumas informações sobre o futebol da Índia, para muitos que não o
sabem essa Liga já existe com uma empresa inglesa a investir numa Superliga que
acontece numa competição entre Setembro, altura em que se cumpre a pré-época, e
Dezembro, e a ideia deles é levar jogadores que tiveram tudo na carreira, no
passado estiveram lá Del Piero, Materazzi, Trezeguet, entre outros jogadores
conhecidos de que não me recordo.
Do Brasil já ali jogaram o Elano, André Santos, e com o Zico como treinador a
SuperLiga foi um sucesso, o público presente já era de 50 e 60 mil adeptos, são
apoiantes fanáticos, e já sei que este ano para além do Zico da selecção
brasileira também o Roberto Carlos será treinador, tal como o Materazzi e
outros jogadores famosos também jogarão a Liga. Claro que sendo Zico o
treinador, já trabalhei com ele, foi o presidente do clube em que comecei, o
CRZ, para além disso ele é meu amigo.
O Zico é o meu ídolo e com certeza foi um atractivo para que aceitasse a
proposta e o facto de continuar a jogar, ou não tivesse uma carreira de 21
anos, é também o que amo fazer e não poderia deixar de aceitar para além do que
já disse, o salário e esse tipo de coisas de que também preciso por mais que
isso não seja a minha prioridade trabalho muito e por consequência tenho o meu
dinheiro.
Seja ele muito ou não, não vivo em função disso. Sempre fui assim e continuarei
a ser assim, então existem alguns factores que levaram a que aceitasse o Goa,
acima de tudo porque me dou bem com o técnico.
Para além do Goa, teve outros convites em
carteira?
O convite do Goa chegou a 31 de Março, aceitei na hora, foi o Zico que me
ligou, e eu na época estava no Uberlândia de Minas Gerais e logo depois tive a
primeira convocatória para a Selecção portuguesa, confesso que não sabia o que
fazer porque o meu coração estava a pedir para que fosse para a Selecção e
sabia que o meu contrato com o Uberlândia estava a terminar, acabava no final
de Maio e faltavam jogar-se alguns jogos de um torneio hexagonal que no caso
existe neste Campeonato Regional.
Por coisas que tinham acontecido nos bastidores, optei por rescindir o meu
contrato já com a ideia de me apresentar na Selecção portuguesa, já tinha isso
na cabeça, e o convite do Goa chegou nessa altura quando o Zico me ligou e eu
na altura estava no Uberlândia, onde jogava poucos jogos por ser esse Hexagonal
final do Campeonato Regional, que é antes do Nacional, no dia 1 de Abril chegou
a convocatória para a selecção portuguesa e o meu coração e a minha cabeça já
estavam com Portugal.
Houve algumas coisas nos bastidores do Uberlândia com as quais não concordei
que fizeram com que rescindisse o contrato, já tinha o Goa como certo e tinha a
Selecção Nacional que era um desejo meu e me permitiria ganhar o Campeonato do
Mundo, jogá-la e ganhá-la como é óbvio que era o meu objectivo, a partir desse
momento não é que tenha fechado portas mas deixei de escutar outros, claro que
aparecem sempre empresários a perguntar qual é o meu interesse, para onde vou,
se quero ir para algum clube…
Enfim, algumas situações menores aqui no Brasil mas já tinha tudo acertado e
planeado na minha vida, então não procurei saber de mais nada pois já tinha
contrato assinado com o Goa, pelo que não podia ir para lugar nenhum só que não
podia dizer, tentei esconder ao máximo e que as pessoas só soubessem a partir
de Agosto mas hoje em dia com a Internet é muito difícil que isso aconteça.
Representou o Sp. Braga em Futebol de Praia pela
segunda época consecutiva. Como ficou essa situação? Pensa voltar?
Já tinha acertado com eles e quando joguei fi-lo com o maior prazer do Mundo,
nessa altura já estava aqui em estágios da Selecção e no início de Junho houve
a Champions League de praia em Itália e logo depois começava o estágio para os
Jogos Europeus, então como já estava na Europa não tinha porque não aceitar,
não só por isso mas também pela situação de o Braga ser o que é, pela estrutura
que tem, por ser campeão e estar a defender o título, pelos jogadores e Mister
que tem, por todos.
Então joguei, foram três os jogos que pude jogar no Campeonato Português,
ganhámos os três sem consentir qualquer golo, ajudei a equipa a continuar em
primeiro lugar e agora eles irão continuar, terão pela frente o Sporting.
Existe uma conversa com o Mister para que volte mas existem outras situações
que me impedem de voltar porque agora preciso de resolver umas situações
pessoais no Brasil até porque como as pessoas já sabem vou para a Índia e
depois não vou poder fazer mais nada. Lá vou estar focado até ao Natal e terei
pouco tempo até porque como já disse vou para a Estónia e por isso menos tempo
para resolver tudo.
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