Percurso de Paulo Bento na Selecção Nacional
Aos comandos da
Selecção Nacional de futebol Paulo Bento experimentou uma situação que
muitas vezes encontramos na vida e que neste meio muitas vezes
acontecem, passando por momentos altos e baixos num percurso muitas
vezes atribulado.
A personalidade do treinador, franca e directa,
começou desde bem cedo a render o respeito por parte da Comunicação
Social e do público numa fase inicial em que a sua contratação
surpreendeu visto que a primeira escolha da Federação Portuguesa de
Futebol se centrava em José Mourinho, que chegou mesmo a aceitar o
convite e apenas não assinou contrato por questões processuais ligadas à
sua entidade patronal.
Por outras palavras: Paulo Bento apenas
chegou ao comando da Selecção Nacional porque Mourinho foi obrigado a
recusar por Florentino Perez, presidente do Real Madrid e por inerência
patrão do Special One, que proibiu o técnico de acumular os dois cargos
ao aceitar treinar Portugal a regime de ‘part time’ ao mesmo tempo que
continuava a orientar o gigante espanhol. Ainda assim, este facto não
pareceu pressionar Paulo Bento, que conseguiu resultados imediatos.
O
momento de chegada de Bento ao cargo de seleccionador nacional não era,
nem de perto nem de longe, fácil, pois herdava uma equipa desiludida e
em colisão após uma passagem conturbada do anterior seleccionador,
Carlos Queiroz, que havia saído por despedimento depois de ter mantido
discussões com a Agência Nacional Anti-Dopagem, vários elementos da FPF e
alegadamente vários jogadores, entre os quais a estrela maior e capitão
de equipa, Cristiano Ronaldo.
Esse clima de guerra afectava
claramente o desempenhou da equipa nacional, que iniciava a qualificação
para o Campeonato Europeu de 2012 com dois resultados negativos, uma
derrota na Noruega e um tão ou mais surpreendente empate em casa a
quatro bolas ante a modesta selecção de Chipre num jogo disputado em
Guimarães que precipitou a mudança, ou seja, a entrada de Paulo Bento
com a pressão acrescida de os resultados serem precisos no imediato.
De
forma meritória, o treinador nacional conseguiu entrar a vencer, e logo
perante o adversário com o qual discutia directamente a qualificação, a
Dinamarca, com um indiscutível 3-1 em partida realizada no Porto,
imprimindo algumas, não muitas mas cirúrgicas, alterações numa equipa
que partiu de trás na qualificação e terminaria esse fase no segundo
lugar, necessitando de derrotar num play-off de apuramento a sua
congénere da Bósnia-Herzegovina.
Dois anos depois de ter
derrotado a equipa bósnia, nessa altura para marcar presença no Mundial
2010, Portugal voltou a derrotar esse adversário, agora com toques de
brilhantismo por tê-lo conseguido com uma goleada infligida no Estádio
da Luz, palco no qual Paulo Bento também havia alcançado um dos seus
grandes momentos como seleccionador nacional, uma vitória por
incontestáveis 4-0 sobre a Espanha.
Refira-se que nesse momento o
conjunto espanhol chegava a Portugal na qualidade de campeão mundial e a
meio de um percurso que o tornaria também campeão europeu numa
competição na qual Portugal passou de menos a mais, começando com uma
derrota tangencial frente à Alemanha para depois derrotar a Dinamarca,
que já havia encontrado na fase de qualificação, e a Holanda, passando
assim aos oitavos-de-final no segundo posto.
Depois de
ultrapassar a República Checa nos quartos-de-final, a Selecção Nacional
voltou a deparar-se com a Espanha sem desta feita ter repetido a
brilhante exibição conseguida meses antes em Lisboa. De qualquer forma,
levou a equipa que haveria de se sagrar vencedora da prova ao limite,
perdendo apenas num desempate por grandes penalidades infeliz, concluído
com um remate de Bruno Alves que embateu na trave e não entrou, seguido
de um pontapé do espanhol Cesc Fabregas que embateu no poste mas ainda
assim entrou na baliza lusa.
Paulo Bento conseguia um resultado
bastante aceitável, a presença em meias-finais do Euro 2012, com uma
equipa muito solidária que não deixava de praticar um futebol atractivo
liderado por Cristiano Ronaldo, em contraste com os ‘contras’ que se
encontravam acima de tudo na excessiva dependência em relação ao talento
desta grande estrela.
Também o núcleo duro da equipa foi
‘espremido‘ até ao limite, visto que no banco de suplentes não se
encontrava substitutos á altura que por esse motivo não foram sequer
utilizados durante o certame.
Passado o Euro 2012, chegava pouco
depois o apuramento para o Mundial 2014, uma vez mais numa fase de
apuramento que Portugal, como costuma ser apanágio, complicou em demasia
com vários resultados que poderiam ter sido comprometedores, terminando
uma vez mais no segundo posto, atrás da Rússia, que assim conseguia a
qualificação directa.
Por seu turno, Portugal era obrigado a
disputar novo play-off, desta feita perante a Suécia, um adversário que
apenas foi transposto face à enorme qualidade de Ronaldo num momento de
forma que o encaminhou para mais uma Bola de Ouro e no qual apontou
todos os golos da equipa portuguesa nas duas mãos disputadas perante a
congénere nórdica.
Conseguido o apuramento para a competição que
se disputava no Brasil, aí começaram de facto os problemas para Paulo
Bento, que não incluiu no lote de 23 convocados jogadores como Ricardo
Carvalho, que abandonou um estágio na sua liderança, José Bosingwa, que
se terá recusado a alinhar numa partida, Danny, que terá alegado uma
lesão não comprovada para abandonar a concentração da equipa, e Tiago, o
único com o qual não foi conhecida qualquer altercação com o treinador.
Para
além destas quatro ausências, juntaram-se mais duas por opção técnica
de Bento e que motivaram também muita discussão, passando pela não
chamada de Adrien Silva e Ricardo Quaresma, com maior enfoque no segundo
caso, depois de terem protagonizado épocas felizes a nível individual
ao serviço de Sporting e FC Porto, respectivamente. Em sentido
contrário, integrou na convocatória vários elementos da sua confiança,
mas em condições físicas deficitárias.
Paulo Bento optou por
correr riscos na disputa do Mundial 2014 e acabou por pagar caro, não
tendo conseguir recuperar os seus melhores elementos, o que o obrigou a
jogar com vários jogadores em esforço, em especial Cristiano Ronaldo com
evidentes dificuldades físicas como líder da equipa que mais lesões
contraiu durante a participação da prova, com jogadores substituídos
face a esse tipo de problemas nos três encontros que a equipa disputou.
Ter
discutido apenas três jogos significa que Portugal não logrou
ultrapassar a fase de grupos, com muitas culpas próprias, num
agrupamento do qual fazia parte a Alemanha, que goleou a equipa nacional
numa partida muito condicionada por um acto irreflectido de Pepe, os
EUA, com quem Portugal apenas logrou empatar com um golo de Silvestre
Varela já nos instantes finais, e o Gana.
Este último foi um
oponente que a turma lusa acabou por transpor mas apenas por 2-1 quando
poderia ter goleado caso tivesse sido mais eficaz, o que teria ainda
valido uma qualificação muito sofrida para a fase seguinte. Sem isso ter
acontecido, a posição de Bento ficou muito fragilizada mesmo que a FPF
tenha optado por declarar publicamente uma “incompetência geral”,
implementado alterações no corpo médico e reforçado os poderes do
seleccionador.
Bastou apenas um jogo para que tudo se alterasse -
para dar início à fase de apuramento para o Euro 2016, esperava-se que a
recuperação/reabilitação da equipa surgisse frente à pouco conhecida
Albânia, que no fim de contas foi capaz de lograr a vitória em partida
discutida em Aveiro, um resultado visto como humilhante e um dos mais
negativos da História da equipa das Quinas mesmo que depois o mesmo
adversário esteja a provar ser uma das boas surpresas da qualificação.
De
poderes reforçados, Paulo Bento passou a não ter poder algum, chegando a
acordo para deixar o comando da equipa, saindo pela ‘porta pequena’
quando antes o poderia ter feito ‘em ombros’. Muitos discutem a eficácia
do seu 4x3x3 que consideram ultrapassado e repetitivo em prol de um 4x4x2 mais
propício aos movimentos de Cristiano Ronaldo, outros consideram
excessiva a sua personalidade forte. De qualquer forma, no cômputo geral
a sua passagem pelo comando técnico de Portugal é positiva e possui
momentos para recordar.
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