quinta-feira, 29 de janeiro de 2015




Percurso de Paulo Bento na Selecção Nacional

Aos comandos da Selecção Nacional de futebol Paulo Bento experimentou uma situação que muitas vezes encontramos na vida e que neste meio muitas vezes acontecem, passando por momentos altos e baixos num percurso muitas vezes atribulado.

A personalidade do treinador, franca e directa, começou desde bem cedo a render o respeito por parte da Comunicação Social e do público numa fase inicial em que a sua contratação surpreendeu visto que a primeira escolha da Federação Portuguesa de Futebol se centrava em José Mourinho, que chegou mesmo a aceitar o convite e apenas não assinou contrato por questões processuais ligadas à sua entidade patronal.

Por outras palavras: Paulo Bento apenas chegou ao comando da Selecção Nacional porque Mourinho foi obrigado a recusar por Florentino Perez, presidente do Real Madrid e por inerência patrão do Special One, que proibiu o técnico de acumular os dois cargos ao aceitar treinar Portugal a regime de ‘part time’ ao mesmo tempo que continuava a orientar o gigante espanhol. Ainda assim, este facto não pareceu pressionar Paulo Bento, que conseguiu resultados imediatos.

O momento de chegada de Bento ao cargo de seleccionador nacional não era, nem de perto nem de longe, fácil, pois herdava uma equipa desiludida e em colisão após uma passagem conturbada do anterior seleccionador, Carlos Queiroz, que havia saído por despedimento depois de ter mantido discussões com a Agência Nacional Anti-Dopagem, vários elementos da FPF e alegadamente vários jogadores, entre os quais a estrela maior e capitão de equipa, Cristiano Ronaldo.

Esse clima de guerra afectava claramente o desempenhou da equipa nacional, que iniciava a qualificação para o Campeonato Europeu de 2012 com dois resultados negativos, uma derrota na Noruega e um tão ou mais surpreendente empate em casa a quatro bolas ante a modesta selecção de Chipre num jogo disputado em Guimarães que precipitou a mudança, ou seja, a entrada de Paulo Bento com a pressão acrescida de os resultados serem precisos no imediato.

De forma meritória, o treinador nacional conseguiu entrar a vencer, e logo perante o adversário com o qual discutia directamente a qualificação, a Dinamarca, com um indiscutível 3-1 em partida realizada no Porto, imprimindo algumas, não muitas mas cirúrgicas, alterações numa equipa que partiu de trás na qualificação e terminaria esse fase no segundo lugar, necessitando de derrotar num play-off de apuramento a sua congénere da Bósnia-Herzegovina.

Dois anos depois de ter derrotado a equipa bósnia, nessa altura para marcar presença no Mundial 2010, Portugal voltou a derrotar esse adversário, agora com toques de brilhantismo por tê-lo conseguido com uma goleada infligida no Estádio da Luz, palco no qual Paulo Bento também havia alcançado um dos seus grandes momentos como seleccionador nacional, uma vitória por incontestáveis 4-0 sobre a Espanha.

Refira-se que nesse momento o conjunto espanhol chegava a Portugal na qualidade de campeão mundial e a meio de um percurso que o tornaria também campeão europeu numa competição na qual Portugal passou de menos a mais, começando com uma derrota tangencial frente à Alemanha para depois derrotar a Dinamarca, que já havia encontrado na fase de qualificação, e a Holanda, passando assim aos oitavos-de-final no segundo posto.

Depois de ultrapassar a República Checa nos quartos-de-final, a Selecção Nacional voltou a deparar-se com a Espanha sem desta feita ter repetido a brilhante exibição conseguida meses antes em Lisboa. De qualquer forma, levou a equipa que haveria de se sagrar vencedora da prova ao limite, perdendo apenas num desempate por grandes penalidades infeliz, concluído com um remate de Bruno Alves que embateu na trave e não entrou, seguido de um pontapé do espanhol Cesc Fabregas que embateu no poste mas ainda assim entrou na baliza lusa.

Paulo Bento conseguia um resultado bastante aceitável, a presença em meias-finais do Euro 2012, com uma equipa muito solidária que não deixava de praticar um futebol atractivo liderado por Cristiano Ronaldo, em contraste com os ‘contras’ que se encontravam acima de tudo na excessiva dependência em relação ao talento desta grande estrela.

Também o núcleo duro da equipa foi ‘espremido‘ até ao limite, visto que no banco de suplentes não se encontrava substitutos á altura que por esse motivo não foram sequer utilizados durante o certame.

Passado o Euro 2012, chegava pouco depois o apuramento para o Mundial 2014, uma vez mais numa fase de apuramento que Portugal, como costuma ser apanágio, complicou em demasia com vários resultados que poderiam ter sido comprometedores, terminando uma vez mais no segundo posto, atrás da Rússia, que assim conseguia a qualificação directa.

Por seu turno, Portugal era obrigado a disputar novo play-off, desta feita perante a Suécia, um adversário que apenas foi transposto face à enorme qualidade de Ronaldo num momento de forma que o encaminhou para mais uma Bola de Ouro e no qual apontou todos os golos da equipa portuguesa nas duas mãos disputadas perante a congénere nórdica.

Conseguido o apuramento para a competição que se disputava no Brasil, aí começaram de facto os problemas para Paulo Bento, que não incluiu no lote de 23 convocados jogadores como Ricardo Carvalho, que abandonou um estágio na sua liderança, José Bosingwa, que se terá recusado a alinhar numa partida, Danny, que terá alegado uma lesão não comprovada para abandonar a concentração da equipa, e Tiago, o único com o qual não foi conhecida qualquer altercação com o treinador.

Para além destas quatro ausências, juntaram-se mais duas por opção técnica de Bento e que motivaram também muita discussão, passando pela não chamada de Adrien Silva e Ricardo Quaresma, com maior enfoque no segundo caso, depois de terem protagonizado épocas felizes a nível individual ao serviço de Sporting e FC Porto, respectivamente. Em sentido contrário, integrou na convocatória vários elementos da sua confiança, mas em condições físicas deficitárias.

Paulo Bento optou por correr riscos na disputa do Mundial 2014 e acabou por pagar caro, não tendo conseguir recuperar os seus melhores elementos, o que o obrigou a jogar com vários jogadores em esforço, em especial Cristiano Ronaldo com evidentes dificuldades físicas como líder da equipa que mais lesões contraiu durante a participação da prova, com jogadores substituídos face a esse tipo de problemas nos três encontros que a equipa disputou.

Ter discutido apenas três jogos significa que Portugal não logrou ultrapassar a fase de grupos, com muitas culpas próprias, num agrupamento do qual fazia parte a Alemanha, que goleou a equipa nacional numa partida muito condicionada por um acto irreflectido de Pepe, os EUA, com quem Portugal apenas logrou empatar com um golo de Silvestre Varela já nos instantes finais, e o Gana.

Este último foi um oponente que a turma lusa acabou por transpor mas apenas por 2-1 quando poderia ter goleado caso tivesse sido mais eficaz, o que teria ainda valido uma qualificação muito sofrida para a fase seguinte. Sem isso ter acontecido, a posição de Bento ficou muito fragilizada mesmo que a FPF tenha optado por declarar publicamente uma “incompetência geral”, implementado alterações no corpo médico e reforçado os poderes do seleccionador.

Bastou apenas um jogo para que tudo se alterasse - para dar início à fase de apuramento para o Euro 2016, esperava-se que a recuperação/reabilitação da equipa surgisse frente à pouco conhecida Albânia, que no fim de contas foi capaz de lograr a vitória em partida discutida em Aveiro, um resultado visto como humilhante e um dos mais negativos da História da equipa das Quinas mesmo que depois o mesmo adversário esteja a provar ser uma das boas surpresas da qualificação.

De poderes reforçados, Paulo Bento passou a não ter poder algum, chegando a acordo para deixar o comando da equipa, saindo pela ‘porta pequena’ quando antes o poderia ter feito ‘em ombros’. Muitos discutem a eficácia do seu 4x3x3 que consideram ultrapassado e repetitivo em prol de um 4x4x2 mais propício aos movimentos de Cristiano Ronaldo, outros consideram excessiva a sua personalidade forte. De qualquer forma, no cômputo geral a sua passagem pelo comando técnico de Portugal é positiva e possui momentos para recordar.

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