sábado, 21 de janeiro de 2017
























Odivelas – Morte lenta que nunca se consumou

Uma Assembleia-Geral para discutir a insolvência, é neste o ponto que se encontra o há muito ‘desaparecido’ do dia-a-dia do adepto comum, o Odivelas FC que não chegou a encerrar. Embora tenha sido declarado o fim do clube, este poderá ainda ser reerguido por um grupo de associados liderados por um dos seus mais antigos compostos, José Moreira, que deu conta a A BOLA da sua versão do que terá sucedido antes, durante e após o ‘final anunciado’ e o que terá conduzido a tão dramático desfecho.

Segundo o antigo dirigente e actual líder do processo de reestruturação, o processo de insolvência do Odivelas terá sido motivado por interesses de alguns envolvidos na altura, acima de tudo por altura de apurar os valores em dívida no processo de insolvência - “tiveram o descaramento de pedir bastante mais do que o valor real.”

Tudo terá começado, segundo José Moreira, “em 1997, quando o Presidente do clube na altura faleceu devido a um problema grave de saúde”. A partir daí, avança o sócio do clube odivelense, a situação piorou drasticamente – “assumi o clube em Fevereiro desse ano e de acordo com os Estatutos uma Comissão Administrativa apenas poderia ser criada em seis meses. Realizou-se uma Assembleia-Geral Extraordinária pois era necessário realizar um acto eleitoral para eleger uma nova Direcção para o clube, perdi a eleição e afastei-me completamente e só mais tarde me apercebi que o meu afastamento tinha algo de concreto – na altura foi criado o Concelho de Odivelas.”

Os interesses de alguns dirigentes do clube e da própria Câmara terão, segundo este associado do clube, levado ao movimento de destruição que quase custou o seu final numa descoberta que os mesmos alegam sustentar com documentação que comprova não existir qualquer impedimento à plena retoma de actividade do clube apesar da insolvência a que se encontra votado com o emblema odivelense a deter actualmente nas suas mãos o comprovativo da inscrição no Instituto dos Registos e Notariado e a lista completa de todos os credores do clube, alguns deles referentes a verbas “sem cabimento“ - uma delas de apenas 115 euros que passou a 25 euros após o acordo entretanto estabelecido - e outros a empresas entretanto já extintas.

Ao todo, 23 credores e é precisamente devido a estes que o Odivelas poderá recuperar dar cobro à insolvência, o que se encontra muito perto de suceder, com José Moreira a apresentar um documento redigido pelo Tribunal de Loures dando conta que todas as entidades credoras do emblema odivelense acederam a apenas receber 25% da verba em dívida (100 mil euros), considerando o restante sem efeito - “apresentámos ao Tribunal e aos credores uma proposta que toda a gente aceitou para que o Odivelas voltasse a funcionar, está no processo; alguns dos valores estão até praticamente pagos de tão pouco que as empresas terão a receber; a Câmara Municipal de Odivelas fez o favor de apenas responder ao Tribunal apenas dois anos depois.”

Dado este passo determinante, os associados do clube promovem o agendamento de uma Assembleia-Geral para este Sábado pelas 21 horas, para que o Odivelas emposse novos Órgãos Sociais, recuperando todas as suas habilitações enquanto instituição e essa magna reunião do clube odivelense foi marcada pelo próprio José Moreira que em Maio último declarava que esta situação que envolve o Odivelas “explica-se muito facilmente o que se passa e sobre a cedência dos terrenos de Porto Pinheiro , em números exactos sempre se falou em 9 hectares, em 90 e muitos mil metros quadrados, sempre se falou em números que não correspondem à realidade.”

Cerca de oito meses depois, o mesmo adepto e associado do Odivelas FC explica a A BOLA todo o processo e que o fim da SAD foi também deixado correr numa situação em que o fim do clube parecia ser o objectivo das entidades na altura envolvidas: “o clube já estava na Quinta de Porto Pinheiro e já lá estava construído o Estádio Arnaldo Dias; percebi que tinha sido ‘chutado’ quando surge a Urbanização Colinas do Cruzeiro e algo não batia certo sobre a área que envolvia o Estádio – de mais de 85 mil metros quadrados, só aparecia 57 mil.”

“Houve cedências da parte da Comissão Instaladora do Município de Odivelas para conceder a construção de 14 prédios para habitação nessa área. A insolvência iniciou-se em Março de 2006 mas só em 2009 surgiu uma carta dirigida pelos funcionários do clube à Câmara Municipal e tive conhecimento da situação do clube e este grupo de sócios pediu-me para ajudá-los e salvar o clube e por isso avançámos com um pedido de Assembleia-Geral para que percebêssemos o que se passava, tendo o Presidente da Assembleia-Geral respondido que o clube já se encontra insolvente,” acrescentou.

“Apenas o Administrador de Insolvência poderia autorizar uma reunião com os sócios pois a Direcção do clube havia sido destituída e este teve a gentileza de se reunir; o principal credor era o Presidente da Direcção do clube, Humberto Fraga, numa série de situações que não têm cabimento como demonstra a documentação. Veio a comprovar que esse valor em dívida é completamente falso (NDR: passando dos exigidos 121 433 euros para um valor real de… 29 793,41), mais ainda quando o Odivelas fazia milhares de euros por mês com a sua formação.”

Após o levantamento de todas as dívidas contraídas concluiu-se então que o principal credor do Odivelas FC é Jorge Prazeres, antigo treinador do Pinhalnovense mas também o responsável máximo pela Playpiso, empresa que opera na montagem de relvados, a quem José Moreira dirige rasgados elogios pela compreensão demonstrada apesar de se encontrar “cheio de razão, arrasou completamente a juíza e o administrador da insolvência. Almocei com ele, comprometi-me que assim que o Odivelas esteja salvo lhe arranjaria trabalho de forma a recuperar o que perdeu e pedi-lhe ajuda com um jurista, tendo ele acabado por arranjar o advogado dele e da Playpiso que nos recebeu e com quem fomos até ao Tribunal de Loures para consultar todo o processo e tornar-me credor acidental pela Playpiso. No fim, concluiu que tudo isto era uma barafunda.”

Foi nesse momento, consultando o processo, que José Moreira foi informado pelo mencionado jurista que “embora limitado a uma sede e uma equipa de Veteranos o Odivelas está insolvente mas nunca deixou de estar activo. Procurámos solucionar a situação e constatámos que havia um obstáculo relacionado com o relacionamento entre o Presidente da SAD, Luís Baptista, nomeado pelo administrador supremo da Odivelas SAD, e os dirigentes do clube que no entanto entregaram à SAD a exploração do Bingo e segundo relata Humberto Fraga a SAD nunca comparticipou com os valores que tinham acordado com o clube pelo aproveitamento e utilização do Complexo.” Em suma, a Odivelas SAD terá contribuído para o seu próprio fim ao participar nas dificuldades do clube:

“Com a dissolução do clube, a SAD também desaparecia… mas ainda continuou e por isso não percebi como a AF Lisboa permitiu que a Odivelas SAD pudesse estar inscrita e a competir mesmo com o clube já insolvente.” Situação essa que poderá em breve estar resolvida dado que “o clube voltou e está a ser reactivado nas instituições competentes com todos os registos que tinha. Pensámos que o clube tinha acabado pois o Administrador de Insolvência suspendeu toda a actividade, despediu todos os funcionários e entregou todas as instalações à Câmara Municipal de Odivelas, mas isso é mentira.”

“O papel da Câmara em tudo isto é completamente negativo; esta desconhecia até que o edifício existente no terreno era a sede do Odivelas FC; existia um plano de pagamentos para dois activos que ninguém conhecia no processo, entre elas essa propriedade que actualmente tem dois prédios construídos na área que então ocupava. Este processo de insolvência foi um absurdo e o acordo na entrega dos terrenos não foi cumprido, as primeiras outorgantes do contrato apontam isso mesmo: ’entregue pelo Odivelas FC com todas as benfeitorias realizadas’. Está tudo destruído - faço questão de futuramente levar a Imprensa a constatar o estado das instalações, incluindo o anexo que tinha a serventia de balneários. Politicamente, isto arrasará com o actual Executivo do Município.”

Com o restabelecimento dos bens pertencentes ao clube e os valores a que considera ter direito (incluem-se 40 mil euros, também entregues à Câmara Municipal) e que aponta com provas documentais, o Odivelas espera reerguer-se e olhar para o futuro que reserva projectos ambiciosos como o regresso ao futebol de formação a construção de um Centro de Estágios e mesmo de um Hotel que poderá envolver, sustenta José Moreira, a contribuição de… Cristiano Ronaldo, com quem espera “um dia ter a oportunidade de conversar e apresentar-lhe esta ideia pois embora provavelmente não saiba chegou, ainda que indirectamente, a passar pelo Odivelas, no momento em que foi recrutado pelo Sporting. Nada temos a perder,” conclui.   



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