segunda-feira, 20 de abril de 2015



Um dos mais conhecidos ex-árbitros da nossa Liga e futebol profissional na actualidade, Pedro Henriques é hoje um homem de muitos ofícios, dividindo-se entre um verdadeiro sem-número de profissões desde Tenente Coronel de Infantaria (Reserva), licenciado em Ciências Militares pela Academia Militar, Mestre em Gestão da Formação Desportiva - Faculdade de Motricidade Humana (FMH) até Doutorando em Treino Desportivo na mesma Faculdade.

O antigo árbitro internacional assume actualmente também as funções de Professor Especialista na área de Educação e Formação (Desporto), Investigador do Centro de Investigação do ISCE, Professor no Instituto Superior de Ciências Educativas (ISCE), docente de Nutrição na Escola de Motricidade e Massagem Aplicada (EMMA) e na Escola de Armas (Mafra), comentador desportivo na TVI e ainda colunista no jornal "O JOGO".

Pelo meio, concedeu ao NOVA ACADEMIA DE TALENTOS uma oportunidade exclusiva de conhecer melhor a sua carreira e de ter acesso ao seu parecer em relação ao futebol nacional na actualidade em especial no sector no qual se notabilizou e especializou, a arbitragem, tema muito em voga no momento actual.

Deu seguimento durante muitos anos a uma carreira internacional de arbitragem. Quais entende serem as principais características para um árbitro ao mais alto nível?

As componentes fundamentais são a física, a técnica, a capacidade de liderança, Fair Play, estilo de vida saudável e o treino invisível, humildade, sentido de responsabilidade, a ética, a atitude, a postura, a integridade, a honestidade, o prazer pela atividade, o conhecimento do jogo e especialmente a paixão pelo futebol.

Tornou-se conhecido do público pelo seu estilo característico de apitar ‘à inglesa’. Era sua preocupação manter-se fiel a essa filosofia ou por outro lado foi uma fama que foi ganhando sem grande noção da sua parte?

Eu sempre interpretei o futebol e a aplicação das leis de jogo baseado no bom senso, o deixar jogar, o privilegiar o contacto e o dar fluidez ao jogo e ao arbitrar segundo estes princípios estava mais próximo do estilo "à inglesa" de uma forma natural acabando com o tempo por me ir mantendo fiel a este estilo de forma natural e automatizada.

A sua carreira como árbitro coincidiu com a sua carreira militar, como sucedeu também com João Ferreira. Considera que a aprendizagem que teve enquanto militar ajudou de alguma forma a tornarem-se melhores árbitros?

Como militar adquiri e cimentei princípios e valores que me tornaram melhor como ser humano e o facto de lidar diariamente com pessoas foi me útil para entender e e melhorar a forma de gerir pessoas sentimentos e emoções tal como a capacidade de liderança e tudo isso me foi útil enquanto árbitro dentro e fora das quatro linhas.

Considera que o momento mais polémico da sua carreira como árbitro se tratou da mão de Miguel Vítor que sancionou num Benfica vs Nacional na Luz, invalidando assim um golo que garantiria uma vitória aos encarnados na altura?

Sempre me foquei nos aspetos positivos e assertivos da minha vida, fazendo obviamente uma aprendizagem constante com as tomadas de decisão e situações menos boas. Sempre tratei as pessoas com o máximo de educação e respeito e nunca admiti que não fizessem o mesmo comigo. A polémica desse jogo não foi a questão da mão e do golo anulado, a polémica foi depois do apito final por causa da forma como eu geri e sobretudo reagi a quem me tratou mal.

Terminada a sua carreira mantém-se notabilizado como comentador especialista em arbitragens. Considera ser neste momento o papel mais indicado da sua parte em relação à arbitragem portuguesa? Ou mantém outras ambições?

A minha relação com a arbitragem neste momento está em três patamares; comentador desportivo (TVI e jornal "O Jogo"), como formador e técnico das leis normas e regulamentos e como doutorando na Faculdade de Motricidade Humana, onde na minha tese estou a analisar as leis de jogo.

Esta é a minha realidade e a minha relação atual com a arbitragem. Outos projetos? Tudo é possível, já tive a oportunidade de paralelamente ter colaborado com um clube e essa situação pode vir a ser num futuro próximo um outro caminho levado mais a sério.  

As suas análises à arbitragem dividem-se entre participações televisivas na TVI24 e análises por escrito no jornal O Jogo. Ambas lhe dão o mesmo gozo? Encontra dificuldades acrescidas em qual das duas actividades?

As pessoas com quem trabalho direta e indiretamente nestes dois órgãos de comunicação social, dão-me completa e total liberdade para falar comentar e escrever o que eu quero. Para alem disso são todas essas pessoas profissionais de excelência.

O que significa que por um lado tenho um prazer enorme naquilo que faço e por outro lado sinto um orgulho imenso por fazer parte dessas duas "famílias". Prazer e orgulho para mim acabam por ser sinonimo de paixão, pelo trabalho e pelas instituições.

Olhando à arbitragem actual em Portugal, partilha da ideia geral de que Jorge de Sousa é talvez o melhor árbitro português?

Uma resposta difícil de dar. Jorge Sousa e Artur Soares Dias são porventura os dois árbitros mais completos da atualidade, mas eu gosto do estilo de arbitrar de Hugo Miguel, acho que o João Capela tem condições extraordinárias para alcançar outros patamares e sou um fã incondicional do grande árbitro e ser humano que é o Duarte Gomes.

Recorrendo novamente ao que é normalmente ventilado pelo público, concorda com a ideia de que Artur Soares Dias é neste momento o juiz de maior futuro?

Em termos internacionais será o sucessor natural de Pedro Proença, e acho que não é só o futuro que pode ser bom para o Artur, felizmente para a arbitragem portuguesa ele já é um arbitro com um presente de excelência.

Muitos seguidores da modalidade apontam também Marco Ferreira ao lote dos melhores árbitros existentes no nosso futebol no momento. Partilha dessa opinião?

O Marco Ferreira dentro das quatro linhas é um arbitro de grande nível e competência e tem demonstrado isso em jogos de grande importância e grau de dificuldade, mas tem de resolver algumas questões da sua gestão de imagem fora do terreno de jogo

Para além destes árbitros existe mais um nome experiente como Carlos Xistra. Tendo em conta que passou uma semana atribulada com presenças no Portugal vs Cabo Verde como 4º árbitro e nos jogos FC Porto vs Marítimo e Benfica vs Nacional com distinção, considera estar aqui um árbitro injustamente desvalorizado pelos media e pelos próprios adeptos de futebol?

Por vezes há árbitros que tendo bons desempenhos e sendo competentes tem uma imagem externa não muito favorável quer na comunicação social quer na opinião dos adeptos, neste contexto o Carlos Xistra não tem sido tão valorizado e reconhecido. Tem qualidade, é competente e nestes dois jogos demonstrou isso mesmo embora muitos não lhe tenham feito esse reconhecimento.

Que ideia guarda de Fábio Veríssimo e Tiago Martins, os dois mais recentes internacionais? Considera precoce esta veloz ascensão destes jovens ou por outro lado que ambos se encontram devidamente preparados para as exigências que irão encontrar?

Como qualidades principais para atingirem patamares mais elevados tem a juventude, a irreverência a ambição e obviamente a competência, porque senão não tinham chegado onde estão neste momento. Falta-lhes efetivamente experiência e maturidade essenciais para se ser um árbitro completo, esperemos que isso não os traia no percurso que estão a desbravar.

Terminada a carreira de Pedro Proença, qual entende ser o limite no que toca a novas funções que este possa vir a ambicionar?

Pedro Proença quer pela experiência quer pela competência quer pelos patamares alcançados tem seguramente qualquer lugar garantido (por mérito) no seio do futebol e da arbitragem. Penso que o melhor quer para ele quer para a arbitragem nacional será o desempenho de tarefas e de missões nas comissôes de arbitragem e ou de instrutores quer da UEFA quer da FIFA, e não tenho duvidas que é isso que vai acontecer ainda no decorrer deste ano.

Como avalia o trabalho de Vítor Pereira como responsável máximo da arbitragem da Liga?

Vou ser curto e conciso na minha resposta com tudo o que pode significar a minha afirmação e com tudo o que fica por dizer. Vítor Pereira foi o melhor presidente da arbitragem de todos os tempos.

Como avalia o trabalho de José Fontelas Gomes como líder da APAF? Acha que este árbitro em particular poderia ter garantido uma carreira mais preenchida nesta função antes de assumir a preferência? Ou considera que esse facto é irrelevante?

Difícil falar do "Zé" porque sou seu amigo pessoal e tenho por ele uma enorme estima e consideração. Está numa fase de aprendizagem e crescimento como dirigente, mas tem a ambição o conhecimento e sobretudo a vontade em fazer bem. Por isso mesmo não concordando com tudo o que ele diz ou faz é neste momento a pessoa certa para liderar os destinos da APAF.

Qual é a sua visão sobre a polémica recentemente criada com o alegado incumprimento no pagamento de prémios aos árbitros de primeira categoria, colocando em risco as arbitragens das arbitragens das cinco últimas jornadas da Liga?

Tenho a certeza que as partes se vão entender e que o caso acaba por morrer antes de se consumar a greve, até porque ha duas pessoas envolvidas no processo que pela sua honestidade, competência e vontade em fazer bem vão construir uma plataforma de entendimento, falo obviamente do José Gomes e do Luís Duque.

Supondo que a paragem dos árbitros seguirá avante, qual entende ser a melhor opção de recurso - apostar em juízes da segunda categoria ou contratar árbitros estrangeiros? Tem acompanhado a evolução dos árbitros que apitam no Campeonato Nacional de Seniores? Estariam estes juízes à altura das exigências?

Conforme respondi anteriormente não vai haver greve porque tudo se ira resolver em tempo útil, mas ter árbitros estrangeiros seria sempre mais caro do que pagar as verbas que são devidas aos árbitros portugueses e os juízes de segunda podem não ter ainda a experiência e a maturidade para por exemplo dirigir um Benfica - FC Porto.

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