terça-feira, 30 de maio de 2017



Lidera uma equipa técnica que muito embora se estreie em conjunto precisamente no Campeonato da Europa dentro de menos de duas semanas, há muito trabalha em consonância ‘na sombra’. A estreia oficial do seleccionador nacional David Martins decorrerá no certame a realizar na República Checa mas não lhe tira o sono, tendo o principal responsável técnico nacional deixado claras as suas intenções e o método colectivista do seu trabalho com palavras de crença e ambição para a participação da equipa lusa em mais um Europeu:

Numa vertente mais desportiva, uma lista de convocados que foi elaborada. Estes foram de facto os jogadores que mais se destacaram em todas as SuperLigas e observações, ou foi a lista possível, com alguma ausência que eventualmente estivesse planeada e não esteja presente?


Tenho expectativas muito altas. Digamos que 90% dos jogadores que estão convocados de imediato fizeram parte das primeiras escolhas e acredito pelo que tenho visto deste estágio, do Torneio Inter-Regiões e de algumas ideias que tinha e observações que fiz também de final a final e no fim este é o grupo mais forte possível, realmente os melhores jogadores a nível nacional de Futebol de Sete e de Cinco estão aqui e de entre eles sairá o lote dos melhores para representar Portugal no Europeu.

Tendo em conta os treinos já realizados, o nível que os jogadores já apresentaram, a juntar às observações e diversos torneios, até que ponto podem ser elevadas as expectativas para estes jogadores?

Ambiciono, e já partilhei essa mensagem na primeira abordagem aos jogadores e na primeira intervenção que fiz, passei claramente a mensagem sobre a minha ambição e da minha vontade de atingir objectivos mais elevados porque acima de tudo acredito que realmente existe aqui um foco de oportunidade.

Um foco que, parece-me e pela experiência que tenho e tive no ano passado, que a nível de qualidade evoluímos claramente do ano passado para este e tive enquanto jogador e agora enquanto responsável técnico, da parte técnica deste grupo de jogadores, acredito que esse aumento de qualidade e de potencial, digamos assim, fará com que estejam reunidas as condições para que possamos assumir objectivos claramente ambiciosos.

Há outro aspecto que pode ser frisado, que é a ligação ao Futebol de Onze. No seu caso, tratando-se de um treinador com sucesso nessa variante esta época ao alcançar a promoção ao Campeonato de Portugal pelo Olímpico do Montijo, pode de alguma forma transportar-se para o MiniFootball, até mesmo numa vertente psicológica?

Aquilo que são as nuances de interpretação ou motivação, tudo o que seja transversal a uma actividade desportiva, seja no Futebol de Onze, de Sete ou de Cinco, a parte da liderança, os objectivos não variam substancialmente. Ao nível da questão do treino, é completamente diferente e posso aproveitar alguns exercícios pontualmente mas terei sempre de transformá-los em função das características do próprio jogo.

Estamos a falar de um campo com dimensões muito mais pequenas, de relações entre jogadores que se criam individualmente e colectivamente que são completamente diferentes… Está estudado que em média no Futebol de Onze um jogador toca na bola um minuto e meio de tempo útil, em 90 minutos é o tempo de permanência com a bola de determinado jogador. Aqui, a bola está muito mais em contacto com os jogadores, não tenho a precisão de saber qual o tempo mas há muito mais contacto com a bola, o jogo é muito mais intenso.

Há muitas mais transições ofensivas e defensivas e o jogo tem uma intensidade substancialmente diferente, depois há as questões de a baliza ser mais pequena, o número de jogadores ser menor, o campo ser mais reduzido… em termos de organização de treino e exercícios tem de haver uma certa adaptação á modalidade, mas como é óbvio trazendo eu algum ‘know-how’ do Futebol de Onze há sempre algumas adaptações que podem ser feitas.

Estou perante o actual seleccionador e o anterior, ambos parte da equipa técnica. Em termos colectivos, oficialmente é muito recente. Está a ser fácil em termos de conciliação de vontades a junção de personalidades? Ou a equipa técnica não é tão recente quanto possa parecer?


Essencialmente, o Carlos na altura em que fui convidado a assumir o cargo de seleccionador, fiz questão de que ele continuasse, pois para além de ele ter um acumulado de experiência dos anos anteriores vejo nele competências que podem ser grandes mais-valias para o desenvolvimento do trabalho desta equipa técnica, tem sido extremamente fácil trabalhar com ele, ele aceita perfeitamente o seu papel e não temos de concordar em tudo.

Se ambos concordassem em tudo, o trabalho de ambos nada acrescentaria um ao outro…

Exactamente. Preciso de pessoas que tenham ideias diferentes das minhas, que às vezes contestem no sentido positivo, divergente nas opiniões para que com isso possa eu crescer, as outras pessoas também e o objectivo principal que acaba por ser o nosso foco. Se vier para acrescentar valor, estou sempre disponível para ouvir as opiniões dos meus adjuntos, seja do João, seja do Carlos.

Esta minha pergunta poderia ser utilizada para fechar e até pode pecar por incompleta visto ainda faltar realizar-se alguns treinos, mas tendo em conta o conhecimento que possuem da própria modalidade, dos jogadores e até sobre cada um em particular, o que é que neste momento falta aprimorar ou melhorar para que Portugal possa alcançar os objectivos que pretendem no Europeu?

Essencialmente passa por uma questão de experiência e há certamente questões técnicas e tácticas que têm de ser trabalhadas e melhoradas e também é por isto que estamos a organizar este estágio e ainda haverá um outro mais à frente, mas muitas vezes o que faz a diferença no momento da competição é a questão emocional que neste tipo de situações é fundamental. Muitos destes jogadores, alguns deste grupo de trabalho já não pois passaram por situações de terem sido profissionais de futebol e essa experiência é também importante.

É importante que estes jogadores tragam essa experiência e a transportem aos outros que nunca tiveram essa oportunidade. 60 ou 70% destes escolhidos provavelmente nunca tiveram a experiência de terem sido profissionais de futebol, nunca tiveram a oportunidade de serem postos à prova ou de estarem num ambiente em que a emoção tenha estado à flor da pele. O controlo sobre as nossas emoções, especialmente aqui em que estaremos longe do nosso País e da nossa família, com estádio cheio, todas essas condicionantes que estão à volta do jogo são fundamentais.

Isso não conseguimos transpor para o estágio - podemos trabalhar questões tácticas, técnicas, de organização e atleticismo individual, mas nunca essa questão da experiência, isso está sempre pendente da resposta que eles depois consigam dar em ambiente de jogo.

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