segunda-feira, 29 de maio de 2017



Objectivo cumprido, mas com sofrimento desnecessário

Com direito a muito sofrimento, a Selecção Nacional sub-20 conseguiu cumprir o primeiro objectivo estabelecido por Emílio Peixe que passava pelo apuramento para a segunda fase.
Para já, a Selecção Nacional sub-20 cumpriu o primeiro objectivo definido para o Mundial da categoria. No entanto, era desnecessário tamanho sofrimento, com a equipa portuguesa a ter apenas ultrapassado a primeira fase ao garantir o segundo lugar em igualdade pontual com o terceiro, a Costa Rica, apenas a cinco minutos do final e apenas através de um lance de enorme felicidade no qual uma tentativa de cruzamento de Xande Silva resultou num auto-golo apontado por um defensor do Irão.
Olhemos então ao grupo de Portugal: conquistado pela Zâmbia, conjunto assente em irreverência africana mas muito desconcentrado defensivamente num colectivo do qual faz parte um jogador do… Esmoriz e claramente ao alcance da turma lusa ou não tivesse sido derrotado pela Costa Rica, equipa que perante Portugal demonstrou inclusivamente dificuldades em apresentar uma proposta de jogo que lhe permitisse, sequer, chegar á baliza com perigo; por fim, o eliminado Irão, que necessitava de um ponto para o apuramento e preferiu apontar baterias a esse mesmo empate.
Perante um ultra defensivo Irão, mesmo assim Portugal facilitou nos minutos iniciais ao consentir um golo obtido através de um pontapé de canto colocado ao primeiro poste, declarando-se depois a uma abordagem de grande atitude, é certo, mas com um propósito de demasiado coração e organização em decréscimo, acabando por virar o resultado através de uma recarga de Diogo Gonçalves (golo de belo efeito, ainda assim) e o acima referido auto-golo iraniano. Tudo isto para dar por concluída uma fase de grupos bastante abaixo das expectativas.
Emílio Peixe arriscou na escolha e acaba por ainda se manter em competição
A primeira fase de Portugal reflecte uma derrota evitável perante a Zâmbia (equipa fraca em termos defensivos e apenas uma gritante falta de preparação a finalizar evitou uma goleada favorável à turma lusa) e um preocupante empate perante uma Costa Rica que apresentou dificuldades em sequer apresentar uma qualidade mínima ao seu jogo. Curiosamente, ou talvez não, no estágio de preparação, no Japão, a Selecção Nacional havia conseguido uma promissora vitória sobre os EUA, que lideram o Grupo F à entrada para a última jornada.
Estranhamente, no somatório de todos os capítulos os EUA apresentam mais qualidade do que qualquer um dos adversários lusos. Assim, como explicar tamanha ’tremideira’? Com ingenuidade própria da tenra idade de vários dos jogadores seleccionados que com lógica chegam a esta fase ao terem feito parte do Europeu sub-19 no ano passado, semanas depois de conquistarem o título europeu sub-17, e suscitarem os mais rasgados elogios de Emílio Peixe.
Horas antes do duelo frente à Costa Rica, o seleccionador justificou a chamada de cada um dos convocados com a maior probabilidade de virem a fazer parte da Selecção A no futuro, encarando assim o Mundial sub-20 como mais uma etapa de preparação, não se constituindo ainda assim inferior em termos qualitativos a outras selecções europeias com ambições como a França, liderada por Jean-Kévin Augustin mas que já não conta com Kylian Mbappé, obviamente projectado a um nível superior, relativamente à equipa que há um ano se sagrou campeã europeia sub-19.
Pode também tecer-se a comparação com a Inglaterra, que no passado encarava esta competição como menor e este ano apresenta talentos como Dominic Solanke ou Ademola Lookman e vários elementos com competição na Premier League. Uma competição de especialização, destinada a uma faixa etária já sénior, que consiste numa etapa formativa para alguns dos seus elementos, o que quase corria mal ao contrário de França e Inglaterra sendo que a média de idades, próxima dos 20 anos, pouco difere entre as três selecções e não poderá assim servir como desculpa.
Equipa portuguesa poderia estar fortalecida com outros craques, já requisitados pelos sub21
Portugal arriscava-se a não apresentar um candidato a jogador mais valioso do torneio quando poderia ter tido João Carvalho, convocado para o Europeu sub-21 juntamente com mais dois jogadores que pelo ano de nascimento poderiam estar nesta competição, Rúben Neves e Renato Sanches, estes sim realisticamente em patamares bem acima de um Mundial sub-20 (o primeiro soma uma internacionalização A e o segundo é tão-somente o jogador revelação do último Europeu sénior, prova que inclusivamente conquistou).
João Carvalho poderá ter dificuldades em jogar com regularidade numa equipa luxuosa em termos de opções para as posições que o jovem ocupa, médio ofensivo ou extremo, e poderia ter numa eventual presença no Mundial sub-20 um contributo mais determinante tendo em conta que poderia colocar-se entre os melhores jogadores da competição. Felizmente para os sub-20 lusos que se tem assumido a figura de outro talento do Benfica, Diogo Gonçalves, e talvez a defesa seja o sector mais consensual e no qual se encontram os melhores jogadores deste escalão.
No restante, faltam opções que poderiam conferir maior qualidade imediata a este grupo como mais um ponta-de-lança - apenas Xande, um atacante rápido e versátil mas diferente do que aparentava no início da formação, como alternativa a Zé Gomes que nestes três desafios de Mundial não exibiu confiança e se mantém em branco. Com a Coreia do Sul pela frente nos oitavos-de-final, esperará a turma das Quinas que essa pecha não venha a fazer falta e a posteriormente ser lamentada…

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