quinta-feira, 9 de outubro de 2014



Conceição sem margem para cumprir

Como já é sabido no futebol o futuro de um técnico é definido pelos resultados, como acabou por suceder com António Conceição, conhecido no meio como Toni, que foi afastado do comando técnico do Olhanense e substituído nesse cargo por Jorge Paixão.

Curiosamente, o despedimento surge poucos dias depois de ter vencido em Lisboa o Oriental e nessa altura ter deixado em entrevista junto da NOVA ACADEMIA DE TALENTOS a sua esperança de ver fluir os resultados do seu trabalho - o que não chegou a suceder.

Numa fase em que o Olhanense não vinha conseguindo bons resultados, venceu na deslocação ao terreno do Oriental. Como analisa o jogo?

Digo antes de mais que vínhamos de um momento adverso, uma derrota em casa que do ponto de vista psicológico poderia deixar mossa na equipa que teve uma reacção muito positiva frente a um adversário que sabíamos ser difícil, não é fácil jogar nesse campo não só pelo mesmo em si, porque cria muita emoção junto dos jogadores da casa mas também pela equipa do Oriental que sabemos que tem feito bons jogos, temos tido a oportunidade de ter esse conhecimento.

Portanto, passava obviamente por uma pressão estratégica para abordar esse jogo e felizmente para nós conseguimos encará-lo com muita concentração e rigor no plano que trazíamos para este jogo e merecemos essa vitória, penso que na primeira parte podíamos ter praticamente tirado qualquer veleidade ao nosso adversário de poder chegar ao golo e assim regressar ao jogo, poderia ser complicado.

Fizemos uma primeira parte muito boa, escassa no número de golos face às oportunidades que tivemos e depois na segunda gerimos mais do que aquilo que procurámos relativamente ao que fizemos na primeira.

O resultado era obviamente importante para nós, a primeira vitória fora de casa e logo depois de um resultado, como disse, adverso na nossa casa que poderia a nosso ver colocar alguma fragilidade emocional mas sinceramente os meus jogadores responderam a esse momento com um bom jogo e atitude.

É da opinião de que esse resultado só peca por escasso?

Tenho muito respeito pelos meus adversários e o Oriental merece-me muito respeito pois tem feito um trajecto de ascensão. Sabemos do potencial desta equipa que nos derrotou na Taça da Liga num momento complicado para nós na construção do plantel e dos jogadores pelos jogos que têm feito neste Campeonato.

Estar a dizer que podíamos ter ampliado o resultado, sabemos que isso é verdade mas por uma questão de ética não o vou fazer. Digo de uma forma assertiva que foi uma vitória justa da equipa do Olhanense que fez por chegar nesse jogo aos três pontos.

Frente ao Oriental a equipa teve uma prestação muito bem conseguida. Tendo isso em conta e também o facto de na época passada ter descido desde a Primeira Liga, não seria de esperar que o Olhanense tivesse uma classificação melhor do que aquela que tem conseguido até aqui?

Não, se estiver atento ao nosso percurso desde que iniciámos os trabalhos para esta época saberá que não tem sido muito fácil para nós, nas três semanas que tivemos de pré-época andámos a treinar praticamente com nove ou dez jogadores.

Os reforços foram chegando a conta-gotas, não foi?

Os reforços foram chegando, há objectivos que esperamos atingir e apesar de termos somado essa vitória há coisa que temos de melhorar, tivemos nessa partida a estreia do Bazzoffia, que chegou duas semanas antes e mesmo em cima do período de inscrições, ainda não tinha jogado. Isto quer dizer que semana a semana os jogadores foram-se integrando até ao fecho do mercado. Agora fizemos o trabalho que deveríamos ter feito na pré-época.

Temos de ser justos nessa análise, obviamente que esperava ter mais três ou quatro pontos, poderíamos perfeitamente tê-los, posso recordar as oportunidades que nos jogos contra o Feirense e o Covilhã desperdiçámos e deveríamos ter ganho esses jogos, na Feira marcámos dois golos e falhámos tantos quantos contra o Oriental e isso traduzir-se-ia em pelo menos quatro pontos e uma situação muito mais vantajosa em termos de tabela classificativa.

Agora, os campeonatos fazem-se com regularidade e sei do meu trabalho referentemente às chegadas tardias dos jogadores, isto não será aqui um argumento de desculpa mas algo factual, andar na pré-época e ir para o primeiro jogo da Taça da Liga contra o Santa Clara com 11 ou 12 jogadores diz bem daquilo que foi a adversidade que estivemos a corrigir e vimos fazendo um trabalho em que pudéssemos rapidamente pôr a equipa na bitola que queríamos.

Relativamente ao facto de a equipa ter conquistado a primeira vitória fora no Campeonato em Marvila, o que pensa desse facto? O desgaste relativo ao facto de existirem de forma consecutiva jogos à quarta-feira e ao Domingo têm pesado na constituição do plantel? Existem dentro da equipa algumas pedras chave relativamente à experiência, jogadores que já alinharam na Primeira Liga. Acha que isso é determinante para a tal transição nos primeiros tempos a que fez referência? 

Devo dizer que não foi fácil o nosso trabalho, por essas razões começar com 9 ou 10 jogadores. Expliquei também que o plantel se foi construindo com a entrada de jogadores a pouco e pouco, e outro dos nossos jogadores realizou em Marvila a sua estreia, o Diakhité, que teve aquele problema de sai, não sai por causa do mercado.

Era um jogador que à partida estava à parte do plantel porque estava em condições de ser vendido e o que é certo é que depois o integrámos numa fase em que o Campeonato já tinha quatro ou cinco jornadas, depois encaixar e trabalhar isto, os automatismos e começar a época com apenas 11 naturalmente que o entrosamento demora o seu tempo.

É verdade que esses jogadores que vieram da Primeira Liga podem trazer experiência e maturidade, porque jogar na Liga dá exactamente isso mas há uma coisa distinta neste Campeonato que o nível de competitividade completamente diferente e porventura há jogadores que se adaptam ao jogo da Primeira Liga e depois vêm para a Segunda e têm alguma dificuldade de adaptação.

Existe aquela ideia de que o futebol da Segunda Liga é mais batalhado…

Sim, é mais competitivo e disputado palmo a palmo, não há muito tempo para pensar e este é de facto um dos problemas que estes jogadores podem trazer porque no ano passado na Primeira Liga alguns destes jogadores fizeram a sua estreia no futebol português, mas nunca tinham jogado na Segunda, isso é um processo de adaptação.

Em relação à sua experiência e percurso, como foi esta sua entrada no seu regresso à Segunda Liga para um treinador que em anos recentes lutava pelo título na Roménia e pelas competições europeias?

Quanto a mim, sou um homem de desafios, sei que não teria vida fácil no Olhanense mas entre estar em casa a ver jogos pela televisão e trabalhar é isto que prefiro, é evidente que já tive uma experiência no estrangeiro, já tive as malas feitas para ir para fora outra vez, decidi ficar por aqui à espera de uma oportunidade e tive no ano passado o Moreirense, decidi continuar em Portugal à espera de um convite que me possibilitasse o retorno á Primeira Liga.

Como se sabe tive as portas abertas no Moreirense mas entendemos que a saída era o melhor caminho para ambos, para mim e para o clube. Houve o convite do Olhanense, sinceramente pensei muito, com certeza que iria encontrar muitas dificuldades, aquelas que mencionei, mas aceitei pronto para as resolver e ajudar o clube, embora fosse quase um suicídio (risos), mas desenvolvemos todo o trabalho com a Administração e os jogadores que chegaram.

Terão de manter esse espírito de se superar as dificuldades e si mesmos no sentido de pôr o Olhanense nos primeiros lugares e discutir mais à frente, queremos assumir essa responsabilidade mas sempre mais à frente. Se a equipa se conseguir estabilizar nos primeiros cinco, seis lugares, depois veremos o que se poderá fazer no resto do Campeonato.

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