terça-feira, 4 de junho de 2013




Méritos de Farinha... Mestre na Costa Rica

Guilherme Farinha será um dos mais experientes técnicos portugueses em actividade

Desde há vários anos que é conhecido internacionalmente o sucesso dos técnicos portugueses além-fronteiras, praticamente em todas as latitudes, pelo que restará valorizar os pioneiros nestas aventuras, como será certamente o caso do experiente Guilherme Farinha, que em declarações exclusivas ao Nova Academia de Talentos caracterizou a sua carreira como um dos treinadores de maior sucesso fora de Portugal e o primeiro luso a trabalhar em vários países.

É por isso merecedor dos mais rasgados elogios. Como assinala o seu início de carreira?

A minha carreira não começou no Fanhões, começou nos Iniciados do Mouros durante duas épocas, ainda jovem e estudante, e na minha série só o Sporting me ganhava, cheguei inclusive a empatar com eles sendo eu jogador dos aspirantes do mesmo clube, na altura treinado por Luís Norton de Matos. Apareço depois como treinador dos Juniores do Fanhões graças ao convite de um grande amigo meu nessa altura director do clube, o Eng. João Duarte.

Como prosseguiu a sua carreira nos anos seguintes?

Passei pelo futebol da Holanda, onde treinei os seniores do KS Broekhoven, da cidade de Tilburg, nessa altura fui o primeiro treinador português a treinar na Holanda e quiçá dos primeiros na Europa. Regressando da Holanda, treinei o Vitória Clube de Lisboa, da III Divisão e depois fui convidado a treinar o FC Oliveira do Hospital, também da III Divisão.
Que convite aceitou em seguida?

Tive a possibilidade de treinar a selecção da Guiné-Bissau e assumir o assessoriamento técnico do Centro Nacional de Formação de futebolistas e a organização de todos os campeonatos dos escalões etários de formação, das Escolas até aos Juniores.

Pessoalmente é um país que muito respeito, mas que na realidade era muito complicado pela falta de verbas, de condições, de infraestruturas, com um nível de pobreza muito elevado e desorganização quando lá cheguei e por todo o trabalho realizado durante quatro anos e meio classifico este meu trabalho neste país do continente africano como o meu melhor trabalho até hoje.
Como define a experiência na Guiné-Bissau? Acredito que seja essa uma das passagens que pode fazê-lo orgulhar-se de uma carreira de sucesso.
  
Testemunham esta minha classificação os Profs. Carlos Queiroz, Nelo Vingada, Rui Caçador e Arnaldo Cunha. Depois de sair da Guiné após a brilhante participação nos Jogos da Francofonia em Paris em Sub-21, regressei a Portugal definitivamente devido a uma segunda malária que pôs em risco a minha vida.

 Quem me salvou da morte foi o Dr. Bernardo Vasconcelos, ficando para trás um trabalho árduo mas de muita paixão e dedicação e uma vitória nos I Jogos Desportivos de Língua Portuguesa ao vencer na final no Estádio Nacional Portugal por 1-0.
Parece descrever essa experiência como uma mais-valia para si como técnico. Como concluiu a estada em África?

Há um pequeno interregno de alguns meses no qual dei aulas de Educação Física e após isso surge o convite para treinar o Praiense na II Divisão, o objectivo salvá-los da descida iminente, com a curiosidade de ter chegado à Praia da Vitória numa cadeira de rodas pois tinha sido operado com anestesia geral a uma rutura no tendão de Aquiles quando dava aulas e bem... consegui salvar o Praiense.

Revela muito orgulho esse seu comentário a uma época de sucesso. O que lhe surgiu depois?

 Logo de seguida, o Sporting da Horta da III Divisão, também com o mesmo objectivo e mais uma vez foi cumprido, o aparecimento de Guilherme Farinha no continente sul-americano no Club Cerro Corá da I Divisão do Paraguai foi graças a um protocolo existente entre o Sporting Clube de Portugal e o Cerro Corá, pelas mãos do Eng. Vítor Batista, amigo de infância que conhecia e era amigo do vice-presidente do Sporting, Dr.Simões de Almeida.

Pôs-me em contacto com ele para uma reunião e numa semana viajei para Asssunción, o Cerro Corá encontrava-se na última posição do campeonato paraguaio, tive o privilégio de ter um mês de trabalho entre o Torneio Apertura e o Torneio Clausura e arrancámos para o Clausura. Para não descermos de divisão só podíamos perder um jogo e perdemos logo na primeira jornada com o Guarani.

Isso não inviabilizou uma grande época? Ao que sei, foi uma das diferentes passagens da sua carreira como técnico que lhe ofereceram várias experiências bem-sucedidas.

Após essa derrota ganhámos 14 jogos seguidos e fui à final no Estádio Nacional Defensores del Chaco com o Olímpia e perdi por 3-0...e fomos vice-campeões. Deixo aos leitores a classificação do meu trabalho no Cerro Corá, um clube de bairro- Bairro de Campo Grande – com 200 sócios.
 Foi por isso mais um trabalho muito meritório. E depois na América Central?
As condições que encontrei na Liga Deportiva Alajuelense e no Sport Club Herediano foram muito diferentes das do Paraguai porque tanto um clube como outro são ou estão por História do país nos três melhores clubes da Costa Rica.

 Posso afirmar inclusive que a LD Alajuelense em todos os aspectos é um clube de top em qualquer parte do Mundo, de tal forma que logrei o bicampeonato nacional, ganhando os dois campeonatos de Apertura e Clausura.
Pode dizer-se que conquistou o respeito dos adeptos da Costa Rica?

Ganhei dos Torneios da UNCAF, sendo vice-campeão da CONCACAF em Las Vegas, conseguindo o segundo lugar na MercoNorte, levando a Liga ao 27º posto do ranking mundial da FIFA e tendo o orgulho da UNAFUT me ter outorgado por duas vezes com o prémio de melhor treinador do ano e a ANTF em Portugal me ter entregue o Prémio Fernando Vaz e o Jornal O JOGO me ter considerado o melhor técnico português no estrangeiro.

Portanto, cada um dos clubes que orientou contribuiu para uma carreira bem recheada? Para mim, é merecedor de respeito um verdadeiro rol de prémio individuais e colectivos que recebeu.

 Sim, e esse último prémio foi atribuído por uma votação de todos os jogadores portugueses que actuavam no estrangeiro.
Voltou depois a Portugal para treinar o Casa Pia...

 Por duas vezes, foi um clube no qual tive a honra e o prazer de trabalhar por onde passaram ilustres homens do futebol português com um historial invejável. Não esquecendo que do Casa Pia nasceu o Sporting, o Belenenses e o Vitória de Setúbal.

Classifico as minhas passagens pelo Casa Pia de dois trabalhos apesar de na segunda vez ter deixado o clube a meio da época para regressar ao Paraguai para treinar o SP Luqueño e encontrávamo-nos em 2º lugar a um ponto do Barreirense treinado pelo Daúto Faquirá na II Divisão B.
Como recorda essa fase?
Quiçá o maior erro da minha carreira de treinador tenha sido não ter ficado com o Casa Pia até final da época.

Assim descreveu a passagem por Pina Manique. E que se passou depois?

Precisamente o Académico de Viseu aparece após a primeira época do Casa Pia, quando depois de o tirar do último lugar e termos ganho a 2ª volta do campeonato e terminarmos em quinto lugar num lote de vinte clubes porque saio? Porque o Académico de Viseu pela primeira vez ia ser SAD e principalmente porque a minha falecida mãe, a poetisa Marília Farinha, era de Viseu.
É assim que explica essa escolha?

Aqui jogaram as questões sentimentais.
Que seguimento deu à carreira depois de homenagear a sua progenitora?

Fui duas vezes vice-campeão no Paraguai, onde também ganhei o prémio Revelação, onde mexi com a metodologia de treino aplicada e onde fizemos uma boa campana na  COMMEBOL, ainda hoje sou recordado e deixei de facto a ‘marca de Farinha’ e prestigiei a qualidade dos técnicos portugueses.

Foram assim vários anos bem proveitosos. Que sucedeu depois?

O Belenenses aparece após o meu regresso do Paraguai, onde quase no final da época tive outra rutura no tendão de Aquiles, no outro pé, e apesar de ter sido operado no Paraguai quis fazer a minha reabilitação em Portugal, coisa que acabou por não acontecer porque tive o convite do meu amigo Augusto Inácio para o acompanhar no Belenenses como preparador físico.
Foi uma experiência também proveitosa para si?
 
Aqui mais uma vez prevaleceu o sentimento, neste caso o da amizade.

De qualquer forma, manteve-se em actividade. E em seguida?

Com todo o respeito que tenho pelo Loures, onde fiz um trabalho de apenas um mês, para ser franco nessa altura não consegui ter a motivação desejada e exigida, por isso pedi a minha demissão.

Como descreve os últimos anos passados no Irão, que tipo de  pessoas encontrou?

O meu trabalho no Foolad foi novamente por um convite feito pelo meu amigo de infância Inácio. Foram cinco épocas de árduo trabalho nas quais numa época cheguei a ser o treinador principal e nas últimas três épocas com as funções de assessor técnico-táctico e preparador físico.

 
Conseguiu assim aumentar o seu prestígio...

Nesse continente asiático e nomeadamente nesse clube, o Foolad, posso também dizer que no próprio país, o Irão, alterei a metodologia de treino, num país em que as condições e as infraestruturas são boas, onde as pessoas têm um alto grau de emotividade com uma mentalidade muito diferente da nossa mas infelizmente em muitos dos casos com uma mentalidade amadora.
Isso dificulta o trabalho a desenvolver? Espera voltar mais tarde?

Em 2007, já eu tendo um conhecimento razoável do que era treinar no Irão, tendo também já feito uma avaliação da qualidade dos técnicos a trabalhar naquele país e da qualidade dos jogadores dizia que um treinador com outra mentalidade e outra filosofia de analisar o futebol não teria difícil ser campeão no Irão.

Por isso perspectivei uma boa campanha de Toni no Tractor e quiçá um apuramento de Carlos Queiroz para o Campeonato do Mundo Brasil 2014, não esquecendo a possível recuperação que o Persepolis de Manuel José ainda possa fazer. Não sei quando mas um dia gostava de regressar ao Irão como treinador principal com o objectivo de me tornar campeão no antigo Império Persa.
Portanto, esse constitui-se um dos seus objectivos próximos. Acha que o voltaram a convidar por ter deixado uma excelente imagem do seu trabalho em quatro continentes?

O meu regresso na época passada ao Foolad foi precisamente depois de regressar da Guatemala em que tive o cuidado de visitar o clube e apresentar os meus cumprimentos aos meus colegas e jogadores e aquando dessa visita tive o gosto de ser novamente convidado para assumir as funções de assessor técnico-táctico e preparador físico para a época 2011/12.
E cumpriu integralmente. Como relata essa experiência?

Sentia-me bem no Irão, estava a realizar um bom trabalho, todas as pessoas do clube e da cidade de Ahwaz tinham grande admiração e respeito por mim e via-me numa continuidade de desenvolvimento do meu trabalho no Foolad. O Municipal da Guatemala convida-me e eu aceito e saio do Foolad porquê? Aqui não há questões sentimentais mas sim de estratégia.

Após quatro épocas acima de tudo como preparador físico agarrei o desafio do Municipal para mostrar ao Irão que também era acima de tudo e em primeiro lugar treinador de futebol. Fui para o Municipal a 15 dias de começar o campeonato e ganhei o Torneio Regular, fui vice-campeão ao perder na final com o Comunicaciones por penalties (8º penalty) e fazendo uma boa campanha na Champions League da CONCACAF.

Essa foi mais uma prova na qual deixou boa imagem...

Pena que três jogadores da minha equipa, o que me deixou muito triste quando tive conhecimento, se tinham vendido em dois jogos, um da CONCACAF e outro precisamente o jogo da final. Aliás, a decisão de irradiação destes três jogadores foi recentemente ratificada pela FIFA.

Foram castigados três atletas que terão inviabilizado mais uma oportunidade para si de conquistar títulos... O que espera no futuro?

Já saí do Foolad há alguns meses, durante este tempo já surgiram várias situações para diversos sítios do Mundo mas até hoje nada de concreto, já disse publicamente que gostaria de ter uma possibilidade de treinar na Oceânia pois seria o único técnico do Mundo a trabalhar nos cinco continentes.
Esse seria um passo inédito no futebol luso...

Talvez me falte o empresário para poder pôr em prática este sonho que me é legítimo.
Assim Guilherme Farinha concluiu o seu discurso ao descrever um desafio que colocaria o treinador português na História do futebol mundial com um recorde que certamente orgulharia o desporto nacional, embora tudo o que conseguiu até ao momento já o coloque numa posição de mérito. Actualmente, o experiente técnico orienta o Carmelita, clube da Costa Rica, um país no qual o seu trabalho é adorado.

Texto: Rafael Batista Reis
Imagem: D.R.
Nova Academia de Talentos

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