quinta-feira, 9 de maio de 2013





ÉPOCA DE RENDIÇÃO DOS MESTRES

Final da época marcará a despedida de Sir Alex Ferguson e Jupp Heynckes

Não só o futebol, mas também a vida, é feito de ciclos, como parece destinado a suceder de tempo a tempo com os futebolistas mais marcantes e por vezes também com os treinadores, uma secção especial da modalidade que no final da corrente temporada perderá dois dos seus maiores mestres por imperativos naturais como a idade e o desejo de cada uma dessas personalidades em obter o merecido descanso depois de carreiras de glória.

Curiosamente, as despedidas terão lugar em duas das mais prestigiadas Ligas internacionais, em Inglaterra e Alemanha, sendo que uma acabou por se tornar mais significativa e noticiada que a outra, até porque nesse casos e trata do adeus de um homem que durante 27 anos manteve felicidade ao mesmo clube e ainda o encheu de títulos.


Por tudo isto, para sempre será recordado o bonacheirão mas extremamente competente Sir Alex Ferguson, que acima de tudo sai de cena (pelo menos como técnico) depois de ter contribuído para que o futebol tivesse ficado tacticamente mais rico do que estava no momento da sua chegada, podendo numa primeira fase o Aberdeen e depois o que seria uma longa paixão, quase um casamento pela forma duradoura e feliz com que durou, o Manchester United.
 
Enquanto o Real soma mais de 20 treinadores, o United apenas teve um em quase três décadas

Em seu benefício, e para que fique sempre na memória de todos, Fergie será o técnico que prova que nem todos os técnicos da sua geração acabam por ficar presos às ideias predefinidas com que iniciaram a sua carreira (Sven-Goran Eriksson trata-se para mim de um caso claro e evidente dessa abordagem errada) e provou que ano após ano, título após título, foi possível adaptar-se às ideologias e dificuldades do futebol moderno.

Para que se tenha ideia da importância que Sir Alex desempenhou nas últimas três décadas, a sua longa permanência acaba por valer múltiplas vezes mais do que o sucedido em outros clubes de gabarito internacional. Ou melhor: voltando até ao ano de entrada do mestre escocês em Old Trafford, o United apenas teve um técnico até aos dias de hoje: o próprio Ferguson. Quantos teve o Real Madrid: 24, e o 25º poderá estar a caminho…

Ao mesmo tempo, na Alemanha prepara-se o adeus de mais um ‘comandante’ que viaja desde o passado mas com excelentes resultados no presente, caso de Jupp Heynckes, que ainda assim, ao contrário de Ferguson, esteve alguns anos afastado da ribalta apesar de nunca ter colocado pausas na sua longa carreira numa fase menos feliz que incluiu uma passagem pouco ou nada proveitosa por Portugal, onde treinou sem sucesso o Benfica.

Passada essa experiência na qual foi prejudicado pelo momento negativo que os encarnados atravessavam e uma conjuntura que os levou a estar longos anos afastados dos títulos, o alemão voltou aos momentos de grande nível ao voltar ao tipo de futebol no qual a sua organização sempre marcou a diferença, o seu país, voltando a ser conhecido pelo panorama internacional como uma das referências tácticas e no aspecto do treino em terras germânicas.

Por seu turno, Heynckes poderá retirar-se conquistando a mais importante prova continental de clubes

Curiosamente, é mesmo no momento da despedida que Heynckes fará o melhor e mais marcante trabalho, tendo no espaço de duas épocas transformado o Bayern, que já se tratava de uma das melhores equipas a nível europeu, numa verdadeira máquina trituradora que passeou a sua superioridade na Bundesliga e fez com que deixasse para trás vários adversários de monta, com destaque para o Barcelona, que caiu com estrondo com um resultado de 7-0 no somatório das duas mãos.

Heynckes poderá ter o fim de carreira com que todos sonham: depois de já ter conquistado uma grande Liga como a Bundesliga, o veterano alemão poderá juntar-se a Taça da Alemanha e, mais importante ainda, a Liga dos Campeões. Por seu turno, Alex Ferguson afasta-se como detentor do título da Premier League.
 
Em ambos os casos uma realidade parece corrente, a de que ambos se retiram no auge e na certeza de que poderiam prolongar os seus tempos de sucesso. Mais, apesar da idade avançada, ambos se tratam de treinadores mais e melhor preparados do que os seus sucessores, sendo que se no caso de Ferguson parece muito mais capacitado do que David Moyes, Heynckes parece ter uma intimidade com o futebol do Bayern que Pep Guardiola dificilmente terá. Por tudo isto torna-se difícil dizer adeus a dois dos melhores…


Texto: Rafael Batista Reis.
Imagem: D.R.
Nova Academia de Talentos
rafaelreis.rbr@gmail.com

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