sábado, 4 de maio de 2013





UM REI LEÃO FAZ-SE PELAS COMPANHIAS

Sporting deverá esquecer as previsões e concentrar-se no que é de facto importante

O optimismo é uma das qualidades que mais se me reconhece. No entanto, é palavra que não utilizo quando observo e tenho em conta a realidade do Sporting, e constatar que apenas pelo singelo facto de ter vencido quatro ou cinco jogos e ter despedido umas quantas pessoas haja já quem preveja uma era de hegemonia para o Sporting nos próximos anos.

 
Falar em 'hegemonia', seja desportiva seja institucional, na próxima década, só pode mesmo ser brincadeira. O problema é mesmo esse, o Sporting não suporta mais anedotas, e tem infelizmente aturado bastantes, tanto nos seus corpos directivos, como na liderança do seu futebol, como em campo.
 
Não esquecer os sócios e adeptos que por se incomodarem com os tempos favoráveis dos rivais acreditam na primeira utopia que aparece. Ao contrário da imagem que se pretende passar, Bruno de Carvalho não é o Jesus de Nazaré do Sporting, não é milagreiro e pelo menos para já apenas cumpriu com a sua obrigação.
 
Pagar aos jogadores aquilo que está estipulado nos respectivos contratos é motivo de celebração? Não, é um acto corrente de gestão. Pode dizer-se que o mérito está no facto de ter conseguido desbloquear as verbas. Concordo, mas ainda veremos quais as contrapartidas (positivas e negativas) de isso ter sucedido.
 
Para terminar a questão financeira: não vale a pena andar a 'palrar' sobre o orçamento do Sporting para o ano. Parece-me evidente que ainda não está definido, nem podia estar, uma vez que dependerá quase exclusivamente de um pormenor que é pormaior e todos parecem estar a contar como garantido quando para mim a sua confirmação parece distante.

Parece complicado garantir a Liga Europa quando as vitórias apenas surgem a muito custo
 
Sim, estou a falar da qualificação para a Liga Europa. Parece-me vergonhoso e uma tremenda falta de respeito para com Estoril, Rio Ave, Marítimo e Nacional dizer que o Sporting vai à Liga Europa... quando nem sequer ocupa a posição. Só está a dois pontos, falta que se ultrapasse o quase, e esse quase é bem mais difícil do que os 'gestores de trazer por casa' prevêem.
 
Não haverão certamente orçamentos de 20 milhões caso não se termine à frente desses adversários. Mais importante: Estoril e Rio Ave têm vantagem sobre o Sporting não só no confronto directo como até mesmo a nível de futebol jogado, São para mim os grandes candidatos a garantir o lugar europeu que está em falta por essas razões, e especialmente por apresentarem um fio de jogo consistente e conseguirem controlar uma partida de futebol.

Roça um pouco o ridículo considerar o Sporting uma equipa recuperada quando se verifica que mesmo sob o comando de Jesualdo Ferreira, que conseguiu a proeza de reorganizar um plantel destruído, os leões vencem mas ainda não convencem, sofrendo golos ao invés de apontar o golo da tranquilidade e apenas marcando o golo da vitória nos minutos finais.

Isso apenas não sucedeu num encontro, curiosamente frente ao adversário frente ao qual essa abordagem até seria justificável, mais concretamente contra o Benfica. Valorizo e até admiro a forma como o Sporting procurou jogar na Luz, a campo inteiro, mas o resultado acabou por ser o que se previa para além do penalty por assinalar e uma expulsão perdoada a Maxi Pereira: falta de resistência física e de argumentos em termos globais para contrariar um rival poderosíssimo no seu ataque.

Em vez de procurar explicar como pretendia ganhar na Luz com muita bola, é facto, mas apenas um remate à baiza, façanha de Eric Dier, o Sporting deu início a uma lenda da arbitragem que, diga-se de passagem, não existe. Assim talvez continuará caso não cumpra o seu objectivo europeu, que apesar de possível ainda não está concluído. Acrescento: apenas o melhor Sporting da época será capaz de passar incólume em Paços de Ferreira.

O que pretendo explicar é que no Sporting é aconselhável será… nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Ou seja: não se trata de um ‘dinossauro abatido’ que tem já o fim à vista, mas também não é o ‘vulcão renascido’ que querem fazer passar. Longe disso. Apenas com o apuramento para a Liga Europa o Sporting poderá evitar uma verdadeira revolução no plantel, e com isso novo enfraquecimento a nível desportivo.

Caso não chegue à Europa, desprender-se de algumas mais-valias desportivas será uma inevitabilidade

Se nem conseguir sequer um lugar numa prova europeia, como poderá o Sporting pensar em terceiros lugares? Tanto os credores como os patrocinadores não dormem, nem têm pena do Sporting, pelo que se não é o próprio leão a ‘fazer-se à vida’, a paciência de quem tem dinheiro da sua posse dentro do clube não será a mesma nem os novos contratos de sponsorização irão surgir. Para resumir tudo isto: só se investe em algo que poderá vir a dar retorno.

Ora, caso não haja quinto lugar (ou sexto, caso seja o Vitória de Guimarães a terminar nesse lugar), os investimentos não irão aparecer. Se não aparecerem, dificilmente Bruno de Carvalho terá 20 milhões de euros para orçamentar a próxima época, até porque necessitará de encaixes imediatos.

Onde os irá arranjar? Empréstimos não pode pedir, nem sequer tem como os pagar, pelo que terá de se socorrer do plantel e transferir pelo menos os jogadores que desportiva e financeiramente não interessam, jogadores como Oguchi Onyewu, activo desde sempre mal gerido, ou Jeffren Suarez, um ex-Barcelona que deverá auferir tanto ou mais do que Bruma e Diego Capel, os titulares para as posições que ocupa no terreno.

Depois, terá de desprender-se de uma das mais-valias existentes no plantel, com o ónus de ter de transferi-la desvalorizada face ao insucesso desportivo de toda a equipa. Exemplo: num futuro próximo, sei que Bruma valerá, à vontade, 30 milhões de euros. No entanto, quem pagará essa maquia a um clube desacreditado que tenha terminado a Liga em 7º/8º lugar? Ninguém, mas assim terá de ser o dilema leonino caso não se deixe o ‘jogo de balelas’ e se cumpra o que é realmente indispensável, vencer no campo, se possível vencendo bem e com autoridade.

Se continuar a dar importância aos ‘passadores de mensagens’ que lançam previsões sem qualquer legitimidade, olhando para o clube como um ‘jogo de vaidades’ para esconder a sua mediocridade, não haverá Europa, não haverá dinheiro, não haverão títulos. E veremos se o futuro terá Sporting…

Texto

: Rafael Batista Reis
Imagem: D.R.
Nova Academia de Talentos

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