quinta-feira, 16 de maio de 2013







JESUS : A CRUZ OU A SALVAÇÃO?

Trabalho de Jorge Jesus tem sido meritório  - merecedor da renovação?

Precisamente no dia em que o Benfica joga o seu destino europeu, neste caso com a possibilidade de garantir mais uma conquista inclusivamente inédita na sua história, a Liga Europa, parece-me adequado sair em defesa de Jorge Jesus, o grande obreiro deste feito e uma personalidade sobre a qual a sua continuidade não deve depender de uma eventual vitória logo mais.

Embora representem, claro, o corolário do sucesso de um treinador, títulos não são tudo. Arrisco mesmo a dizer que mesmo que o Benfica pudesse vir a ter um final de época epicamente negativo, com a perda de todas as provas nas quais se encontra inserido já na sua recta final, mais concretamente a Liga Zon Sagres nas suas três últimas jornadas e a Liga Europa e a Taça de Portugal nas suas finais, ninguém apagaria o facto de os encarnados terem feito no geral uma das suas melhores épocas de sempre.

Não parece irónico e até mesmo cínico pensar em despedir o principal impulsionador de uma época tão positiva? Sim, mais ainda verificando a evolução do plantel benfiquista época após época, reflectindo-se nos resultados que até ao momento possui praticamente apenas aspectos positivos.

Os resultados desta época transmitem uma Liga que no seu todo apresentou uma posição bastante vantajosa e agora mantém hipóteses menos francas mas ainda assim realistas, uma participação na Liga dos Campeões condigna e prejudicada por alguns momentos, uma suprema passagem para a Liga Europa que poderá trazer uma conquista europeia mais de 40 anos depois, assim como uma tentativa de defesa do título da Liga Europa apenas travada nas meias-finais e o regresso a uma final da Taça de Portugal.

Difícil, ou mesmo impossível, voltar atrás no tempo e encontrar uma época tão positiva no historial encarnado. Mesmo que não venha a ser conquistado qualquer título. Apesar de determinantes, as conquistas não representam os únicos motivos de interesse em futebol, existindo também factores como o futebol, e a forma como este se pratica, e o encanto que este gera junto dos adeptos e simpatizantes. Não será complicado reconhecer que JJ convence plenamente nestes dois requisitos.

Quando Jesus chegou ao Benfica, o plantel apresentava um claro défice não só de qualidade como de nível de jogo. Os títulos encontravam-se distantes, uma vez que parecia impossível vaticinar sucesso a uma equipa que se encontrava qualitativamente muito distante dos seus rivais, o FC Porto e até nessa altura o próprio Sporting, tendo essa situação mudado radicalmente pela mão do investimento de Luís Filipe Vieira mas também o conhecimento de Jesus.

Mais-valias como Matic e Enzo Perez comprovam o fantástico ‘olho’ que o técnico possui

Tudo mudou para melhor, inclusivamente a nível económico, com grande mérito do treinador, que época após época vai gerando mais-valias financeiras. Alguém acreditava, no momento da sua contratação, que jogadores como David Luiz, Angel di Maria, Fábio Coentrão ou Javi García iriam garantir verbas de transferências tão avultadas? Ninguém. Acrescento que vários destes jogadores chegaram ao clube com insuficiências técnicas, alguns em termos de posição, que hoje em dia ninguém descortina.

Esse aproveitamento de recursos mantém-se até à data, e com o sucesso desportivo que se conhece. Pelo futebol europeu não conheço qualquer caso de uma equipa que tenha chegado tão longe nas competições nas quais se encontra envolvido muitas vezes com um lateral direito adaptado, André Almeida, um lateral esquerdo adaptado, Lorenzo Melgarejo e até o próprio André Almeida, um médio defensivo reconvertido como Nemanja Matic e um médio centro também ‘inventado’ como Enzo Perez.

Destes, praticamente todos têm revelado um excelente aproveitamento. Contudo, esse constante recurso à conversão de jogadores revela também um ‘contra’ a Jesus, neste caso em relação ao seu aproveitamento dos recursos existentes no mercado, principalmente na inexistência de uma alternativa inquestionável para a posição de lateral esquerdo, que tem sido preenchida por duas adaptações bem conseguidas.

Não teria sido possível, desde a saída de Fábio Coentrão, canalizar alguma da verba disponível para a contratação de um médio defensivo capaz de competir com Matic e um lateral esquerdo titular? Para este segundo caso, os valores de transferência e respectivos salários de Emerson, Joan Capdevila e até de Melgarejo não teriam sido suficientes para avançar para a compra de um verdadeiro craque na posição?

Penso que a resposta será óbvia, assim como será quando se questionar o demérito técnico na perda de algumas das competições que poderia ter ganho. Entre todas as competições perdidas pelos encarnados, apenas uma época poderá ser vista como desculpável, o ano excelente do FC Porto comandado por André Villas-Boas.

Mesmo dentro dessa temporada, o Benfica poderia ter conseguido exercer uma concorrência superior aos dragões, que nesse período se mostraram incomparavelmente mais fortes… Atendendo apenas a esta temporada, e tendo já sido reconhecidos todo o méritos de Jesus para que esta tenha sucedido, certo será que várias das suas opções técnicas nos últimos três jogos parecem ter sido determinantes para que o Benfica… não ganhasse.

No entanto, o desperdício de algumas mais-valias são contrabalanço para a sua continuidade

Primeiramente, com a lesão de Enzo Perez frente ao Estoril, apostou num Carlos Martins pouco rodado, com as consequências que se conhecem, a sua expulsão e o empate final. No banco estava André Almeida, um médio centro de raiz.

Depois, no Dragão frente ao FC Porto, duas dúvidas se levantam: não seria necessária outra alternativa para o meio-campo defensivo para além de Roderick Miranda? Que experiência tem este jogador mostrado nas últimas épocas? Resposta: pouca ou nenhuma, como se constata pela reduzida utilização que vinha tendo até Janeiro no Deportivo La Coruña, provando ser, para já, um jogador curto para as aspirações do Benfica e um activo a ceder a um clube sediado na Liga para rodar.

No entanto, este jogador alinhou em vários encontros importantes e inclusivamente na praticamente determinante partida no Dragão. A que custo? Provavelmente de uma Liga. No entanto, não se responsabilize Roderick do sucedido, uma vez que Jesus terá cometido um outro erro importante no Dragão, o de não ter lançado Pablo Aimar mais cedo num encontro no qual a sua experiência e domínio de bola poderiam ter sido uma mais-valia.

Tanto contra o FC Porto como nas raras oportunidades que tem tido, Aimar parece não contar para o ’Totobola’ do seu treinador, voltando a não sair do banco contra o Chelsea, adversário frente ao qual os encarnados praticaram um futebol de excelência mas terão arriscado cedo demais, ficando a dúvida em relação ao resultado final caso as águias tivessem tentado ‘segurar’ o meio-campo. Aqui sim, aceitar-se-ia um ‘Roderick’ nos minutos finais, até porque depois poderia haver prolongamento…

A vertente pessoal também apresenta um JJ longe da perfeição. Mediano comunicador, muitas vezes arrogante em demasia e muitas vezes sobranceiro para com os jornalistas, tendo em algumas ocasiões proferido comentários no mínimo dispensáveis, o técnico parece ainda não estar completamente à altura do exigível num clube como o Benfica. Por outro lado, defende o clube como poucos e de uma forma muitas vezes apaixonante…

Desta forma, pesam-se os prós e contras – Jesus tem méritos, muitos, mas também não poucos os deméritos. Analisando a situação no prisma da Direcção encarnada, deve ser analisado o projecto futuro para a equipa. Jorge Jesus deverá, assim, ser colocado no topo no que toca ao favoritismo para conduzir a equipa.

Todavia, o mercado pode vir a ditar a sua lei. Caso surja num leque de disponíveis um técnico com características semelhantes e capaz de trazer resultados, a mudança não seria descabida; caso se tratasse de mudar por mudar, os reflexos dentro do plantel poderiam ser um retrocesso. Ficará a dúvida para as próximas semanas.



Texto: Rafael Batista Reis.
Imagem: D.R.
Nova Academia de Talentos

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